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CLÓVIS ROSSI
Armínio, o Cavallo de Lula?
OXFORD - Voltou, no Brasil, o zunzum em torno da possibilidade de
que o governo do PT mantenha Armínio Fraga na presidência do Banco Central nem que seja apenas por
um período transitório.
De longe, é impossível saber se se
trata apenas do ressurgimento de velho desejo dos tais mercados ou de
um balão-de-ensaio que os próprios
petistas estão deixando circular para
ver qual a reação.
Nada contra Armínio Fraga, que
até me parece um cidadão honesto e
competente. Pode-se gostar ou não de
suas idéias, mas é inalienável direito
dele o de tê-las e, mais, tratar de implementá-las quando investido de
função pública.
Não se trata, pois, de "fulanizar" a
questão, para usar uma expressão ao
gosto de Pedro Malan.
Trata-se da absoluta inadequação
de Armínio para um governo do tipo
do que foi eleito agora e nas circunstâncias em que foi eleito. Ou, para
usar frase ontem pronunciada por
ninguém menos que Fernando Henrique Cardoso, questionado sobre a
hipótese de manutenção de Armínio:
"Lula tem que assumir a responsabilidade dele do modo que achar mais
conveniente porque tem a delegação
do povo para isso".
A "delegação do povo" foi no sentido claro da mudança. Se fosse para
deixar como está, o eleitorado teria
preferido José Serra, que anunciou de
público a manutenção de Armínio.
Guardadas as proporções, Lula
manter Armínio equivaleria a "cavallizar" de saída o seu governo. Para
lembrar: Fernando de la Rúa também foi eleito, na Argentina, para
mudar. Não conseguiu e acabou chamando para o Ministério da Economia o mesmo Domingo Cavallo que,
como ministro do governo anterior
(ao qual De la Rúa fazia oposição),
criou a ratoeira do câmbio fixo.
Começar o governo por onde De la
Rúa terminou seria imprudente e até
de mau agouro, para quem crê em
bruxas. O mercado parece acreditar,
mas, feliz ou infelizmente, perdeu a
eleição. Agora, que aguente.
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