São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

A cara do poder

BRASÍLIA - Todo dia se lê nos jornais que o líder do PT, João Paulo Cunha, é o nome mais forte para presidir a Câmara em 2003. Mas dez entre dez petistas de bom calibre admitem baixinho que ele não tem "estatura política" para isso. Imagine o que se diz nos demais partidos.
A questão expõe um lado constrangedor do qual já se falou aqui: o PT elegeu a maior bancada, com 91 deputados, e não consegue encontrar um só, além do super-José Dirceu, que reúna as condições indispensáveis para ser o presidente da Casa.
Quais sejam: dimensão política, comando, experiência parlamentar, trânsito entre as demais bancadas. Uma outra, que nem sempre cola, é ter um relacionamento próximo, porém altivo, em relação ao Planalto (no caso, o Planalto de Lula).
João Paulo é aplicado, tem bom temperamento, conversa bem com os outros partidos. Parece pouco. Além de comandar uma Casa complexa e fundamental para o governo e o país, o novo presidente da Câmara precisa ter força e botar a cara todo dia na televisão, no rádio, nos jornais.
O chefe da Casa Civil e o ministro da Justiça falam de vez em quando. A "cara" política mais identificada com o início da era Lula será, pois, a do presidente da Câmara. Vide Luís Eduardo Magalhães, Michel Temer e Aécio Neves. Não saíam da TV.
O que a cúpula petista se pergunta, com evidente constrangimento, é se João Paulo é esse homem. Será? Caso não seja, quem seria? Dúvidas... É por essas e outras que o deputado e senador eleito Aloizio Mercadante é o lado mais visível do PT na economia, mas parece cada vez menos na Fazenda e mais na liderança do governo no Senado.
Se não houver alternativa na Câmara (Sigmaringa Seixas, Patrus Ananias, Jorge Bittar ou alguém de partido aliado, como Miro Teixeira, do PDT), os personagens poderão forçar uma inversão de papéis. A cara do partido -do novo poder, portanto- seria Mercadante e não João Paulo, presidente da Câmara. Se funciona? Sei lá.


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