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ELIANE CANTANHÊDE
A cara do poder
BRASÍLIA - Todo dia se lê nos jornais que o líder do PT, João Paulo Cunha,
é o nome mais forte para presidir a
Câmara em 2003. Mas dez entre dez
petistas de bom calibre admitem baixinho que ele não tem "estatura política" para isso. Imagine o que se diz
nos demais partidos.
A questão expõe um lado constrangedor do qual já se falou aqui: o PT
elegeu a maior bancada, com 91 deputados, e não consegue encontrar
um só, além do super-José Dirceu,
que reúna as condições indispensáveis para ser o presidente da Casa.
Quais sejam: dimensão política, comando, experiência parlamentar,
trânsito entre as demais bancadas.
Uma outra, que nem sempre cola, é
ter um relacionamento próximo, porém altivo, em relação ao Planalto
(no caso, o Planalto de Lula).
João Paulo é aplicado, tem bom
temperamento, conversa bem com os
outros partidos. Parece pouco. Além
de comandar uma Casa complexa e
fundamental para o governo e o país,
o novo presidente da Câmara precisa
ter força e botar a cara todo dia na televisão, no rádio, nos jornais.
O chefe da Casa Civil e o ministro
da Justiça falam de vez em quando. A
"cara" política mais identificada com
o início da era Lula será, pois, a do
presidente da Câmara. Vide Luís
Eduardo Magalhães, Michel Temer e
Aécio Neves. Não saíam da TV.
O que a cúpula petista se pergunta,
com evidente constrangimento, é se
João Paulo é esse homem. Será? Caso
não seja, quem seria? Dúvidas... É por
essas e outras que o deputado e senador eleito Aloizio Mercadante é o lado mais visível do PT na economia,
mas parece cada vez menos na Fazenda e mais na liderança do governo no Senado.
Se não houver alternativa na Câmara (Sigmaringa Seixas, Patrus
Ananias, Jorge Bittar ou alguém de
partido aliado, como Miro Teixeira,
do PDT), os personagens poderão forçar uma inversão de papéis. A cara
do partido -do novo poder, portanto- seria Mercadante e não João
Paulo, presidente da Câmara. Se funciona? Sei lá.
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