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CARLOS HEITOR CONY
"Abram isso! Abram isso!"
RIO DE JANEIRO - Deodoro estava com uma crise, dizem que de hemorróidas. Não se trata de doença letal,
mas aporrinha pra burro, dá um
mau humor desgraçado. No mais, tudo estava bem para os lados dele, era
o chefe inconteste do Exército Nacional, amigo de dom Pedro 2º (mas não
aproveitador), respeitado pelos companheiros que nele viam realmente
um chefe.
No dia 15 de novembro de 1889
uma pequena comissão foi tirá-lo da
cama. Estremunhado, quis saber o
que se passava. A comissão, formada
por líderes republicanos, disse que
era preciso depor o mais recente gabinete nomeado pelo imperador e, em
decorrência, depor o próprio imperador. Com a Abolição, a monarquia
entrara em coma.
Deodoro nem era republicano. Não
conspirara, era apenas militar e sofria de hemorróidas. Além de autoridade máxima do Exército, morava
próximo do QG -Machado de Assis
diria que morava "ao pé".
Deodoro montou em seu cavalo e
dirigiu-se ao quartel-general, cujos
portões estavam fechados. Do alto de
sua montaria, deu dois gritos:
- Abram isso! Abram isso!!
Cada país tem as frases históricas
que merece. O "isso" em questão não
era apenas o quartel-general, era o
regime, o Império. Estava proclamada a República, o povo nem ficou sabendo. Segundo Aristides Lobo, ficou
é "bestificado".
Corte rápido para 2005. Dona Dilma Rousseff, que não é general e aparentemente não sofre de doença alguma, anda pedindo ao ministro da Fazenda que abra isso. A diferença é
que o "isso" da ministra não é o regime, mas as burras da nação, fechadas pelo ministro da Fazenda.
De nada adianta acumular superávits primários ou secundários, gastar
apenas 10% ou 15% do Orçamento
para receber elogios do FMI e do capital internacional a custa de hospitais lastimáveis, estradas em decomposição, segurança da população no
nível mais baixo de nossa história.
"Abra isso!", pede a ministra. A história tem o bom gosto de se repetir.
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