São Paulo, terça-feira, 15 de novembro de 2005

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ELIANE CANTANHÊDE

Mais um

BRASÍLIA - Lula é um vaidoso clássico, intuitivo e auto-suficiente. Não precisa de nada nem de ninguém. Acha que sabe tudo e que basta botar a mão que os problemas desmancham no ar. E tem um infinito senso de autopreservação.
É assim que os homens do presidente passam e ele fica. Passaram Dirceu e Gushiken no governo, mais Genoino, Delúbio e Sílvio Pereira no PT. Lula alternou irritação e enfado, mas não se abalou.
"Em duas semanas, o Lula esquece o Palocci, como esqueceu o Dirceu. Mas não vai fazer mudanças bruscas na economia, porque tem um forte senso de autopreservação", aposta o líder pefelista José Agripino Maia (RN), prevendo a queda de Palocci.
"O Dirceu cai, o Gushiken cai, a cúpula inteira do PT cai. E o Lula não tem nada a ver com isso? Se o Palocci sair, o Lula tem de sair", provoca o líder da oposição na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA).
O fato é que Lula continua jogando pela janela quadros decisivos para a trajetória do PT, para sua vitória em 2002 e para manter o governo. O máximo que diz é que foi "traído". Palocci está na mira. E ninguém mais se lembra que a melhor coisa do governo era a "estabilidade da economia"?
Podia ser, mas a megalomania diz a Lula que o mérito não é do "companheiro Palocci", mas dele próprio, de sua sapiência, de sua intuição, de sua enorme capacidade de resolver todos os problemas.
Ninguém mais, nem aliados nem adversários, dá um tostão furado pela permanência de Palocci. Não pela pressão do mercado, do PFL, do PSDB, do PT. Mas pelas denúncias dos amigos (cada amigo!) e porque Lula lavou as mãos.
Com Palocci balançando, a questão é saber o que será da economia até a eleição. Como Lula vai decidir? Com o cálculo da autopreservação. A esta altura está somando e diminuindo, na base da intuição, o que é melhor para a campanha: manter o certo ou arriscar no duvidoso.
E aí? Palocci sai e a crise fica?


@ - elianec@uol.com.br

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