São Paulo, domingo, 15 de novembro de 2009

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EMÍLIO ODEBRECHT

Olhando para a Amazônia

PASSADA A CRISE , o desafio que o Brasil tem de crescer de forma sustentável depende primordialmente das questões ambientais. Um fator crítico é a Amazônia Legal, a parte do país coberta pela maior floresta tropical do mundo.
Esse território abriga uma extraordinária riqueza: enorme biodiversidade, jazidas minerais, rios caudalosos, água doce em abundância, florestas de madeiras de lei.
Como explorar, sem colocar em risco, um patrimônio cuja maior parte é brasileiro, mas impacta toda a humanidade?
Sabemos que a pecuária e a agricultura em larga escala não são adequadas para aquela área. O solo amazônico é pobre, e a umidade, associada a altas temperaturas, torna o gado ali criado presa fácil de doenças e até da exaustão.
Já o extrativismo com manejo adequado é absolutamente viável, como várias experiências conhecidas demonstram, inclusive de exploração da madeira, a atividade mais controversa.
A utilização do potencial hídrico para gerar energia e a mineração são alvos de críticas nos debates onde o conhecimento tecnológico e o domínio dos meios de conservação e de mitigação de danos normalmente são sufocados pelo ativismo emocional e pobre de ideias.
Entretanto, hidrelétricas, hoje, podem ser construídas em rios da região sem que causem desequilíbrios ambientais ou ameacem ecossistemas.
As grandes mineradoras que operam por lá dominam integralmente o ciclo do desmatamento, produção do minério, cultivo de espécies nativas, reposição da terra vegetal nas áreas das minas já exauridas e replantio nos locais que foram desmatados. A recomposição da floresta tem sido muito bem-sucedida.
Ocorre que a Amazônia não vem sendo destruída por empresas que funcionam dentro da legalidade. A destruição é fruto da ação deletéria dos que se aproveitam do vazio para perpetrar crimes contra a natureza.
E este é o ponto crucial. Desocupada como é hoje, a região está sob risco, risco este potencializado pela ausência do Estado, no caso do Brasil, tão ligeiro na criação de leis e regulamentos e tão lento e ausente na aplicação e na fiscalização.
Reconheçamos que não é fácil o acompanhamento e o controle do que se faz em uma área com a dimensão da Amazônia. Mas as dificuldades logísticas reforçam a prioridade que deve ser dada à sua ocupação racional.
Apenas a exploração sustentável de suas riquezas e a melhoria das condições de vida da população local -hoje, em sua grande maioria, vivendo no limite da subsistência- farão com que a Amazônia seja conservada para as gerações futuras.


EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta coluna.


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