São Paulo, segunda-feira, 15 de novembro de 2010

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Casuísmo de focinheira

JOSÉ HENRIQUE NUNES BARRETO


Resta ao presidente da Fiesp, Paulo Skaf, acabar com a relação ultrapassada e condenável que mantém com parte de sua base política

Ao final da eleição para o governo paulista, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, ficou em quarto lugar.
Contabilizou 300 mil votos a menos que o palhaço Tiririca.
A Fiesp congrega 150 mil indústrias, que abrigam mais de 3 milhões de trabalhadores diretos. Em tese, uma locomotiva de votos. O que aconteceu? Esse pífio resultado reflete a falta de força política do setor produtivo paulista?
Absolutamente, não. A indústria paulista segue forte e empreendedora. Seus representantes, contudo, padecem dessa deformação imposta pela atualização social e econômica da sociedade brasileira.
Transformada em biombo de interesses e projetos pessoais, a Fiesp distancia-se a cada dia mais do contexto dinâmico de uma agenda industrial complexa e globalizada.
Hoje, essa entidade convive com dirigentes estranhos à atividade industrial, praticando o uso avesso, desenfreado e vergonhoso da sua estrutura. Após o fracasso retumbante nas eleições de 2010, Paulo Skaf voltou à Fiesp.
Numa interpretação singular dos estatutos da entidade, resolveu postular o terceiro mandato à frente da federação, algo que claramente vai contra as regras estabelecidas.
Mas, ainda assim, tem medo de perder mais um pleito. Resolveu, então, atropelar os estatutos da organização mais uma vez.
As próximas eleições da Fiesp estavam previstas para setembro de 2011. Ao longo dos próximos dez meses, sua gestão, que já sofre desgastes fortíssimos, poderia perder ainda mais influência sobre os delegados com direito a voto.
Por isso, Skaf anunciou a antecipação do pleito que elegerá a nova diretoria da casa para abril do ano que vem. Típico casuísmo de focinheira. O ex-candidato ao governo paulista pensa que, ao reduzir o prazo das eleições, contaria com a ajuda do tempo para que possíveis interessados não organizem suas chapas e montem suas campanhas.
Resta ao presidente da Fiesp recobrar a dignidade que a representação estatutária moralmente exige e acabar com a relação paternalista, ultrapassada e condenável que mantém com parte de sua base política. A sociedade industrial paulista cobra a volta do ambiente amistoso, generoso, democrático e rico de espírito e de ideias.
É hora de virar esse jogo. Os presidentes de sindicatos, os mesmos que prezam e respeitam suas entidades e seus respectivos representados, precisam se unir em torno de um esforço comum.
Precisamos resgatar a dignidade de nossa entidade. Precisamos devolver à Fiesp a legitimidade que industriais pioneiros como Mário Amato deixaram. Precisamos lutar unidos para que este processo de sucessão seja limpo, transparente e sem casuísmos. Não queremos, mais uma vez, nos sentir como verdadeiros Tiriricas.


JOSÉ HENRIQUE NUNES BARRETO, industrial e economista, é presidente do Sindifumo (Sindicato da Indústria do Fumo do Estado de São Paulo), membro do conselho de representantes e diretor eleito da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

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