São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

De minas e de idéias

SÃO PAULO - Mesmo entre gente do PT muito próxima do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, admite-se que haja um certo caráter defensivo nos nomes e nas ações até agora adotadas na área econômica.
Objetivo: "Eliminar uma série de minas que estavam no caminho", diz, por exemplo, o historiador Marco Aurélio Garcia, secretário de Cultura da prefeitura paulistana até o dia 31 e, a partir daí, assessor internacional de Lula, com gabinete no Palácio do Planalto.
Marco Aurélio vai além: brinca que o futuro governo está "dormindo com o inimigo", mas minimiza a hipótese de uma gestão FHC-bis.
"Não existe esse risco, por causa da direção política geral e da nossa base social", jura.
Para que a tal "direção política geral" imponha, de fato, um novo rumo vai ser preciso, no entanto, que a esquerda (admitindo-se que o PT continue sendo de esquerda) faça o que deveria ter feito desde que o Muro de Berlim desabou sobre a cabeça dela, há 13 anos.
"É preciso que a esquerda faça uma reflexão mesmo tendo perdido seus dois paradigmas, o comunismo e a social-democracia", diz.
Como não dá para parar o mundo, o governo do PT terá de trocar o pneu com o carro em movimento. Ou, como prefere Marco Aurélio: "Se o governo Lula não for, além de um governo de ação, um governo de idéias, terá fracassado".
É óbvio que Marco Aurélio aposta que aparecerão as idéias e as ações. Se não, não aceitaria emprego em pleno Palácio do Planalto.
Mas, até agora, a agenda do novo governo ficou dominada pelas idéias e ações velhas (eliminar as "minas" colocadas pelo mercado). Resta saber se novas "minas" não surgirão e não matarão as idéias que ainda nem sequer amadureceram.


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