São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

Chama o PT, mas que PT?

BRASÍLIA - O PT que está no governo é José Dirceu e Antonio Palocci, mas também Henrique Meirelles, Roberto Rodrigues e Luiz Furlan.
Já o PT do Congresso é um pouco diferente. Só no Senado, Heloísa Helena, Serys, Ana Júlia, Fátima Cleide e Ideli Salvatti, gente do barulho. Moderada, havia Marina Silva. Mas esta também vai para o governo.
FHC costumava dizer algo como "se faz, criticam; se não faz, também criticam". Isso cabe perfeitamente na montagem do governo Lula.
Se o presidente eleito fizesse um governo bem petista, iria apanhar feito condenado do tal mercado, dos conservadores e dos governistas que saem. E a macroeconomia?
Se faz um governo eclético, com um ex-executivo do BankBoston, um presidente da federação de agrobusiness e um megaempresário, apanha do outro lado. E o purismo?
Mas o inverso também é verdadeiro: no início, faça o que fizer, presidente nenhum apanha. Lula foi pouco criticado por escolher Henrique Meirelles, por exemplo. Ele é homem do sistema financeiro -e do sistema financeiro internacional, que o PT sempre condenou.
Quando Armínio Fraga foi escolhido, a esquerda rejeitou duramente o "homem do Soros". Quando Meirelles é indicado, só uma Heloísa Helena ou um Raul Pont gritam.
Lula segurou o coração do governo para o PT, com Dirceu e Palocci, e distribuiu o resto como podia. Ou seja, pragmaticamente. Porque, primeiro, o governo do PT precisa mostrar que é bonzinho; ampliou horizontes e tem apoio da direita. Segundo, porque sofre de falta de quadros. O Banco Central existe, o mercado existe, o mundo existe. Mas o PT fingia que não. Ninguém do mercado virou petista, nenhum petista virou homem de mercado, e eles nem se falam. Cinco recusaram o BC.
Essas fronteiras estão acabando. Um médico vai mandar na economia e um "estrangeiro", nas finanças. O PT histórico é um, o PT no Congresso é outro e o PT no governo é um terceiro. Todos eles têm muito o que aprender. E o país com eles.


Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: De minas e de idéias
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Gabriela Wolthers: Um lapso de três anos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.