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MARCIO AITH
O mendigo e a
dinastia Bush
Com a captura do ex-ditador Saddam Hussein, o presidente George W. Bush realiza um projeto pessoal,
obtém uma janela de oportunidade
para retirar soldados americanos do
atoleiro no Iraque e fortalece sua candidatura à reeleição.
As imagens do ex-ditador com cabelos bagunçados e barba longa, de boca
aberta, sendo examinado por um médico militar americano, rebaixam à
condição de mendigo aquele que, em
1991, foi comparado pelo pai do atual
presidente americano a Adolf Hitler.
Terão forte impacto na intenção de
voto dos americanos em 2004, assim
como os lances do julgamento de Saddam -provavelmente um espetáculo
hollywoodiano, com depoimentos de
vítimas e imagens das atrocidades de
seu regime de duas décadas.
O presidente Bush foi eleito com
menos votos que seu principal adversário e, nos anos 60, usou o poder do
pai para fugir do maior desafio militar
de sua geração, a Guerra do Vietnã.
Por esse motivo, convencionou-se
dizer que sua Presidência ganhou sentido apenas no 11 de Setembro, quando, depois de uma reação inicial autista, o ex-governador do Texas comandou a reação e definiu a "clareza moral" que justificaria ações militares e
restrições a liberdades individuais.
Bush ainda não sabe se o terrorista
Osama bin Laden, pivô do processo
que redefiniu sua Presidência, está vivo ou morto.
Mas a captura de Saddam deve ser
vista isoladamente, sob as dimensões
das dinastias e do espírito de vingança, temas frequentes no imaginário da
opinião pública americana.
Bush é o segundo filho de um presidente norte-americano a chegar à Casa Branca. O primeiro foi John Quincy
Adams, em 1825, mais de duas décadas depois do governo de seu pai,
John Adams (1797-1801).
Diferentemente de Quincy Adams,
Bush assumiu o poder apenas oito
anos depois da derrota eleitoral de seu
pai -impedido de obter um segundo
mandato pela condução frágil da economia e por ter deixado Saddam permanecer no poder mesmo depois de
compará-lo a Hitler.
Desde sua posse -e mesmo antes
do 11 de Setembro-, o presidente
Bush busca vencer os mesmos desafios que enterraram a carreira de seu
pai. Além de capturar Saddam, tenta
convencer observadores de que a economia americana caminha para uma
retomada sustentável, apesar da elevação substancial dos déficits em conta
corrente e público.
Bush reduziu impostos -em vez de
elevá-los, como seu pai- e promove
uma política monetária expansionista. A taxa anualizada de crescimento
dos EUA foi superior a 8% do segundo
para o terceiro trimestre, ritmo acima
de todas as expectativas.
Bush tenta se fortalecer tanto no
campo da economia quanto no da
guerra e deixa poucos temas à disposição da oposição democrata.
Howard Dean, ex-governador de
Vermont e líder nas pesquisas entre os
democratas, e John Kerry, senador
por Massachusetts, terão dificuldades
para criticar uma política econômica
que, entre mortos e feridos, gera crescimento. Terceiro candidato democrata, o general da reserva Wesley
Clark tende a se enfraquecer com a
prisão de Saddam.
Faltam 11 meses para as eleições presidenciais americanas. Bush pode
complicar-se até lá, mas sua estratégia
parece funcionar.
Marcio Aith é editor do caderno Dinheiro da
Folha.
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