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CARLOS HEITOR CONY
Radicais não-livres
RIO DE JANEIRO - O caso dos radicais não-livres do PT está sendo considerado por alguns comentaristas da
mídia o início informal, mas concreto, de uma reforma política sempre
ameaçada, mas nunca realizada.
Sem entrar no mérito da questão,
acredito que a expulsão de um, de
dois ou de mil radicais de um partido, seja que partido for, não representa nenhuma reforma do absurdo
sistema partidário, que faz um deputado, como Enéas, arrastar para o
Congresso alguns candidatos que
não se elegeriam nem sequer como
síndicos dos prédios onde moram.
Um partido não se resume à pretendida pureza ideológica. Há que
haver correntes, é saudável que haja
correntes, uma vez que a ação partidária se exerce democraticamente
pela maioria de seus membros. Cobrar uma unidade de pensamento
dentro de um partido é uma tendência totalitária que pode descambar
para uma espécie de partido único
-base de qualquer ditadura, seja de
esquerda, como na antiga União Soviética, seja de direita, como na Alemanha nazista e na Itália fascista.
A reforma política de que o Brasil
necessita não passa por aí. Punir dissidentes é prática totalitária, nada
tem de democrática. O que se pretende, o que realmente importa, é uma
legislação eleitoral que discipline a
vida partidária não em conteúdo,
mas em forma. Cada qual escolherá
seu partido e nele permanecerá enquanto concordar com seu programa. As portas devem estar abertas
para quem quiser sair e, se a opção
dos descontentes for continuar lutando dentro da agremiação (como no
caso dos atuais dissidentes do PT), o
partido deverá bancar a divergência,
e não estrangulá-la.
Quando se pensa em reforma política, procura-se acabar com a monstruosidade da existência de tantas legendas, do balcão em que algumas se
transformam, da falta de consistência dos programas, farrapos de papel
produzidos às pressas para justificar
o registro na Justiça Eleitoral.
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