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São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Radicais não-livres

RIO DE JANEIRO - O caso dos radicais não-livres do PT está sendo considerado por alguns comentaristas da mídia o início informal, mas concreto, de uma reforma política sempre ameaçada, mas nunca realizada.
Sem entrar no mérito da questão, acredito que a expulsão de um, de dois ou de mil radicais de um partido, seja que partido for, não representa nenhuma reforma do absurdo sistema partidário, que faz um deputado, como Enéas, arrastar para o Congresso alguns candidatos que não se elegeriam nem sequer como síndicos dos prédios onde moram.
Um partido não se resume à pretendida pureza ideológica. Há que haver correntes, é saudável que haja correntes, uma vez que a ação partidária se exerce democraticamente pela maioria de seus membros. Cobrar uma unidade de pensamento dentro de um partido é uma tendência totalitária que pode descambar para uma espécie de partido único -base de qualquer ditadura, seja de esquerda, como na antiga União Soviética, seja de direita, como na Alemanha nazista e na Itália fascista.
A reforma política de que o Brasil necessita não passa por aí. Punir dissidentes é prática totalitária, nada tem de democrática. O que se pretende, o que realmente importa, é uma legislação eleitoral que discipline a vida partidária não em conteúdo, mas em forma. Cada qual escolherá seu partido e nele permanecerá enquanto concordar com seu programa. As portas devem estar abertas para quem quiser sair e, se a opção dos descontentes for continuar lutando dentro da agremiação (como no caso dos atuais dissidentes do PT), o partido deverá bancar a divergência, e não estrangulá-la.
Quando se pensa em reforma política, procura-se acabar com a monstruosidade da existência de tantas legendas, do balcão em que algumas se transformam, da falta de consistência dos programas, farrapos de papel produzidos às pressas para justificar o registro na Justiça Eleitoral.


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