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CLÓVIS ROSSI
Má leitura ou má-fé
SÃO PAULO - É fruto de má interpretação ou má-fé (ou ambas) a acusação dos Estados Unidos e da OEA (Organização dos Estados Americanos) de que o governo Lula está atrapalhando as negociações para pôr
fim ao impasse venezuelano.
O fulcro da acusação é o fato (suposto ou real) de que o presidente
Hugo Chávez voltou inflexível do encontro com Lula em Brasília.
Se é verdade, é culpa de uma má
leitura de Chávez. Tanto Marco Aurélio Garcia, o assessor diplomático
do presidente, como o próprio Lula
foram muito claros nas conversas
com Chávez: o governo brasileiro (o
atual como o anterior) apóia o presidente, por ser o mandatário legítimo
e constitucional, mas recomenda o
diálogo com a oposição.
Não há saída que passe pela capitulação de uma das partes, como diz o
chanceler Celso Amorim.
Se Chávez leu errado o recado, a
culpa é mais dos EUA e de César Gavíria, o secretário-geral da OEA, do
que de Lula. Washington, por ação
ou omissão, apoiou o golpe de abril
que afastou Chávez do poder por 47
horas. Não podem, portanto, serem
vistos como mediadores isentos.
Gavíria, por sua vez, disse a mais de
um interlocutor que Chávez TEM
que convocar eleições antecipadas,
exatamente a posição defendida pela
oposição (e inconstitucional).
Pode, sim, ser feita emenda à Constituição para antecipar a eleição. Já
há até uma incipiente negociação a
respeito, que não foi atrapalhada pelas gestões do governo brasileiro.
O diabo, na Venezuela, é que a polarização chegou a um ponto tão virulento que o diálogo se torna mais e
mais difícil.
Culpar só Chávez por ela é falsificar
a realidade, como o faz a mídia venezuelana em bloco, macaqueada por
setores da mídia brasileira, que têm a
cara-de-pau de chamar de "democráticos" os que se opõem a Chávez e
foram os mesmos que, em abril, em
apenas 47 horas no poder, começaram por dissolver o Congresso.
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