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São Paulo, quinta-feira, 16 de janeiro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Má leitura ou má-fé

SÃO PAULO - É fruto de má interpretação ou má-fé (ou ambas) a acusação dos Estados Unidos e da OEA (Organização dos Estados Americanos) de que o governo Lula está atrapalhando as negociações para pôr fim ao impasse venezuelano.
O fulcro da acusação é o fato (suposto ou real) de que o presidente Hugo Chávez voltou inflexível do encontro com Lula em Brasília.
Se é verdade, é culpa de uma má leitura de Chávez. Tanto Marco Aurélio Garcia, o assessor diplomático do presidente, como o próprio Lula foram muito claros nas conversas com Chávez: o governo brasileiro (o atual como o anterior) apóia o presidente, por ser o mandatário legítimo e constitucional, mas recomenda o diálogo com a oposição.
Não há saída que passe pela capitulação de uma das partes, como diz o chanceler Celso Amorim.
Se Chávez leu errado o recado, a culpa é mais dos EUA e de César Gavíria, o secretário-geral da OEA, do que de Lula. Washington, por ação ou omissão, apoiou o golpe de abril que afastou Chávez do poder por 47 horas. Não podem, portanto, serem vistos como mediadores isentos.
Gavíria, por sua vez, disse a mais de um interlocutor que Chávez TEM que convocar eleições antecipadas, exatamente a posição defendida pela oposição (e inconstitucional).
Pode, sim, ser feita emenda à Constituição para antecipar a eleição. Já há até uma incipiente negociação a respeito, que não foi atrapalhada pelas gestões do governo brasileiro.
O diabo, na Venezuela, é que a polarização chegou a um ponto tão virulento que o diálogo se torna mais e mais difícil.
Culpar só Chávez por ela é falsificar a realidade, como o faz a mídia venezuelana em bloco, macaqueada por setores da mídia brasileira, que têm a cara-de-pau de chamar de "democráticos" os que se opõem a Chávez e foram os mesmos que, em abril, em apenas 47 horas no poder, começaram por dissolver o Congresso.


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