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São Paulo, quinta-feira, 16 de janeiro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Esse filme a gente já viu

BRASÍLIA -A reforma da Previdência do governo Lula começa exatamente igual à do governo FHC: todo mundo considera absolutamente indispensável, desde que...
1) não se mexa um milímetro nos direitos dos funcionários públicos aposentados e pensionistas, que hoje são reajustados por percentuais iguaizinhos aos aplicados aos funcionários da ativa;
2) crie-se um regime único que não seja igual para militares, juízes e, quem sabe, policiais, diplomatas, professores e garis. Só seja "único", portanto, para o resto;
3) acabe com a aposentadoria integral do funcionalismo público, que, em vez de ir para casa ganhando a mesma coisa que ganhava nos últimos anos de quando estava na ativa, passaria a ter um teto de benefício como qualquer cidadão comum e mortal da iniciativa privada.
É curioso o PT iniciar seu governo propondo justamente o que propuseram os tucanos. Mais curioso ainda é o PT propor o que o PT então combatia com unhas, dentes e votos contrários no Congresso.
De duas, uma: ou o PT estava errado no governo FHC e adiou durante perigosos anos uma reforma doída mas necessária para dar viabilidade ao sistema de Previdência Social, ou o PT estava certo desde então e está simplesmente enlouquecendo agora.
O mais provável é que a "reforma da Previdência" não tenha apenas começado como a do governo FHC, mas também tenha uma trajetória muito parecida. A diferença é que, agora, Lula tem lábia e apoio popular suficiente para aprovar algum tipo de reforma, depois de desbastadas as propostas mais espinhosas -e inaceitáveis pela própria opinião pública petista, quanto mais pela opinião pública em geral.
Governar, como se sabe e o PT está aprendendo, é dureza. Entre outras coisas, é descontentar, apertar, dar más notícias e tentar convencer. Ainda mais se a ação de governo não corresponde ao discurso de décadas de oposição e de campanha.


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