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ELIANE CANTANHÊDE
Esse filme a gente já viu
BRASÍLIA -A reforma da Previdência do governo Lula começa exatamente igual à do governo FHC: todo
mundo considera absolutamente indispensável, desde que...
1) não se mexa um milímetro nos
direitos dos funcionários públicos
aposentados e pensionistas, que hoje
são reajustados por percentuais
iguaizinhos aos aplicados aos funcionários da ativa;
2) crie-se um regime único que não
seja igual para militares, juízes e,
quem sabe, policiais, diplomatas,
professores e garis. Só seja "único",
portanto, para o resto;
3) acabe com a aposentadoria integral do funcionalismo público, que,
em vez de ir para casa ganhando a
mesma coisa que ganhava nos últimos anos de quando estava na ativa,
passaria a ter um teto de benefício como qualquer cidadão comum e mortal da iniciativa privada.
É curioso o PT iniciar seu governo
propondo justamente o que propuseram os tucanos. Mais curioso ainda é
o PT propor o que o PT então combatia com unhas, dentes e votos contrários no Congresso.
De duas, uma: ou o PT estava errado no governo FHC e adiou durante
perigosos anos uma reforma doída
mas necessária para dar viabilidade
ao sistema de Previdência Social, ou
o PT estava certo desde então e está
simplesmente enlouquecendo agora.
O mais provável é que a "reforma
da Previdência" não tenha apenas
começado como a do governo FHC,
mas também tenha uma trajetória
muito parecida. A diferença é que,
agora, Lula tem lábia e apoio popular suficiente para aprovar algum tipo de reforma, depois de desbastadas
as propostas mais espinhosas -e
inaceitáveis pela própria opinião pública petista, quanto mais pela opinião pública em geral.
Governar, como se sabe e o PT está
aprendendo, é dureza. Entre outras
coisas, é descontentar, apertar, dar
más notícias e tentar convencer. Ainda mais se a ação de governo não
corresponde ao discurso de décadas
de oposição e de campanha.
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