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São Paulo, quinta-feira, 16 de janeiro de 2003

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CLAUDIA ANTUNES

Sem omissão

RIO DE JANEIRO - Há duas críticas principais, e interligadas, à atuação do governo Lula na crise venezuelana. De um lado, argumenta-se que, ao atender o pedido de Chávez e enviar ao país um carregamento de petróleo, o Brasil estaria rompendo o princípio da não-ingerência, que sempre norteou sua política externa.
De outro, a venda emergencial do óleo e a boa relação entre Lula e Chávez demonstrariam que a diplomacia brasileira não é neutra o suficiente para liderar o proposto "grupo de amigos da Venezuela".
Postos no atacado, os argumentos parecem fazer sentido. Examinados com as nuances devidas, eles reforçam a posição brasileira, em vez de enfraquecê-la.
Ao enviar o navio (ainda sob Fernando Henrique, mas com um empurrão de Lula), o Brasil legitimou a posição de Chávez como presidente eleito e a defesa de um desfecho negociado e constitucional para a crise. Omitir-se, por trás do princípio da não-ingerência, é que seria liberar o caminho para intervenções, provavelmente menos abertas, que favoreceriam a possibilidade de uma saída golpista e de um conflito civil.
Na questão da neutralidade, a vantagem da iniciativa brasileira é mostrar que tratar desiguais como iguais pode ser a melhor maneira de ser parcial. Com todo o tom confrontacionista e a falta de maleabilidade política, Chávez passou por duas eleições e venceu dois plebiscitos. Suas propostas de mudança constitucional já estavam na plataforma de sua primeira eleição.
Em contraste, os propósitos da frente oposicionista nunca foram transparentes. Sabe-se que o estopim para a guerra aberta contra o presidente não foram supostas tendências autoritárias, mas as reformas econômicas lançadas em dezembro de 2001. A coalizão de grandes empresários, líderes sindicais ligados aos partidos tradicionais e executivos da estatal de petróleo tentou, primeiro, o golpe. Derrotada, paralisou os seus negócios e o país. Para ganhar credibilidade, deve mostrar que não mudará as regras do jogo sempre que seus interesses forem contrariados.


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