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CLAUDIA ANTUNES
Sem omissão
RIO DE JANEIRO - Há duas críticas principais, e interligadas, à atuação
do governo Lula na crise venezuelana. De um lado, argumenta-se que,
ao atender o pedido de Chávez e enviar ao país um carregamento de petróleo, o Brasil estaria rompendo o
princípio da não-ingerência, que
sempre norteou sua política externa.
De outro, a venda emergencial do
óleo e a boa relação entre Lula e Chávez demonstrariam que a diplomacia brasileira não é neutra o suficiente para liderar o proposto "grupo de
amigos da Venezuela".
Postos no atacado, os argumentos
parecem fazer sentido. Examinados
com as nuances devidas, eles reforçam a posição brasileira, em vez de
enfraquecê-la.
Ao enviar o navio (ainda sob Fernando Henrique, mas com um empurrão de Lula), o Brasil legitimou a
posição de Chávez como presidente
eleito e a defesa de um desfecho negociado e constitucional para a crise.
Omitir-se, por trás do princípio da
não-ingerência, é que seria liberar o
caminho para intervenções, provavelmente menos abertas, que favoreceriam a possibilidade de uma saída
golpista e de um conflito civil.
Na questão da neutralidade, a vantagem da iniciativa brasileira é mostrar que tratar desiguais como iguais
pode ser a melhor maneira de ser
parcial. Com todo o tom confrontacionista e a falta de maleabilidade
política, Chávez passou por duas eleições e venceu dois plebiscitos. Suas
propostas de mudança constitucional já estavam na plataforma de sua
primeira eleição.
Em contraste, os propósitos da frente oposicionista nunca foram transparentes. Sabe-se que o estopim para
a guerra aberta contra o presidente
não foram supostas tendências autoritárias, mas as reformas econômicas
lançadas em dezembro de 2001. A
coalizão de grandes empresários, líderes sindicais ligados aos partidos
tradicionais e executivos da estatal
de petróleo tentou, primeiro, o golpe.
Derrotada, paralisou os seus negócios
e o país. Para ganhar credibilidade,
deve mostrar que não mudará as regras do jogo sempre que seus interesses forem contrariados.
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