São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

De Bush a Lula

BRASÍLIA - Um colega me chama a atenção para algo muito curioso nessa história toda de fichamento -mas de fichamento de estrangeiros nos EUA, não desse que a PF anda fazendo de americanos por aqui.
Você sabia que o governo dos EUA não tem nenhum banco de dados centralizado com as digitais dos americanos? Os documentos nacionais são a carteira de motorista e a do seguro social, ambos sem digitais.
O que isso significa? Que o governo Bush tem mais controle sobre estrangeiros que pisam nos EUA do que sobre seus próprios cidadãos. E sabe-se lá quantos deles são ou podem ser terroristas em potencial!
Há exceções. O governo mantém banco de dados nacional para dois casos muito específicos: os criminosos condenados ou os suspeitos em processos criminais. Dá-se, pois, que os cidadãos de países que precisam de visto para entrar nos EUA passam a ter um banco de dados diferenciado em relação aos americanos "normais", mas igual ao de criminosos.
A eles, esses discriminados, juntam-se os cidadãos que são de países dos quais os EUA não exigem visto -caso, por exemplo, dos do Reino Unido e da Austrália. Basta que eles (cientistas, bolsistas, apaixonados) decidam ficar no país por um período superior a 90 dias para entrar na fila do fichamento.
Se essa medida, com fotos e digitais, pode reduzir efetivamente a ameaça terrorista, não se sabe. Mas que pode ter um efeito muito direto sobre a imigração, não tenha dúvida.
Como retaliação -e não exatamente como "reciprocidade"-, o Brasil faz a mesma coisa. Com o detalhe de que, se a medida era judicial no início, agora passou a ser de governo. O mesmo governo que evitou a exclusão do Rio e manteve o fichamento nacional entrou ontem com ação para derrubar a liminar do juiz de Mato Grosso que começou a brincadeira toda. Ou seja: o fichamento não será mais da Justiça, será do Executivo. Bush fez escola.
Como se vê, a insensatez pode ser contagiosa. Aliás, geralmente é.


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