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ELIANE CANTANHÊDE
De Bush a Lula
BRASÍLIA - Um colega me chama a atenção para algo muito curioso nessa história toda de fichamento
-mas de fichamento de estrangeiros
nos EUA, não desse que a PF anda fazendo de americanos por aqui.
Você sabia que o governo dos EUA
não tem nenhum banco de dados
centralizado com as digitais dos americanos? Os documentos nacionais
são a carteira de motorista e a do seguro social, ambos sem digitais.
O que isso significa? Que o governo
Bush tem mais controle sobre estrangeiros que pisam nos EUA do que sobre seus próprios cidadãos. E sabe-se
lá quantos deles são ou podem ser
terroristas em potencial!
Há exceções. O governo mantém
banco de dados nacional para dois
casos muito específicos: os criminosos
condenados ou os suspeitos em processos criminais. Dá-se, pois, que os
cidadãos de países que precisam de
visto para entrar nos EUA passam a
ter um banco de dados diferenciado
em relação aos americanos "normais", mas igual ao de criminosos.
A eles, esses discriminados, juntam-se os cidadãos que são de países dos
quais os EUA não exigem visto -caso, por exemplo, dos do Reino Unido
e da Austrália. Basta que eles (cientistas, bolsistas, apaixonados) decidam ficar no país por um período superior a 90 dias para entrar na fila do
fichamento.
Se essa medida, com fotos e digitais,
pode reduzir efetivamente a ameaça
terrorista, não se sabe. Mas que pode
ter um efeito muito direto sobre a
imigração, não tenha dúvida.
Como retaliação -e não exatamente como "reciprocidade"-, o
Brasil faz a mesma coisa. Com o detalhe de que, se a medida era judicial
no início, agora passou a ser de governo. O mesmo governo que evitou a
exclusão do Rio e manteve o fichamento nacional entrou ontem com
ação para derrubar a liminar do juiz
de Mato Grosso que começou a brincadeira toda. Ou seja: o fichamento
não será mais da Justiça, será do Executivo. Bush fez escola.
Como se vê, a insensatez pode ser
contagiosa. Aliás, geralmente é.
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