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MARCELO BERABA
É Carnaval em Gaza
RIO DE JANEIRO - O irreverente piloto americano pode ser abilolado, mas
o prefeito do Rio de Janeiro não tem
nada de maluco.
O negócio da cidade é turismo.
Qualquer ação que afaste os gringos
pode ser um desastre econômico. É
dólar entrando agora, na alta estação, e até o Carnaval. Por isso, eles estão sendo recepcionados com flores,
presentinhos, mulatas e baticum. É
uma festa para recebê-los e para apagar, desculpe o trocadilho, a má impressão das digitais.
Soberania? Reciprocidade? São discussões estéreis que, à esta altura do
verão, só atrapalham. Quem quer saber de Bush e de política externa?
As medidas tomadas pela prefeitura, e apoiadas pelo governo do Estado e pela Assembléia Legislativa, refletem bem o ânimo cordial que tomou conta do Rio e que é capaz de remover os obstáculos mais difíceis, inclusive a lama do fundo da baía, que
impede a chegada ao cais de um big
transatlântico lotado de turistas.
Seria injusto atribuir tanto empenho apenas a interesses imediatos.
Há a candidatura da cidade à sede
das Olimpíadas de 2012, na seqüência dos Jogos Pan-Americanos de
2007. E há a eleição para a prefeitura.
Cesar Maia é o candidato mais forte,
segundo todas as pesquisas e as opiniões de botequim.
De qualquer forma, é verão. Em nenhum outro momento do ano fica
tão nítida a existência de duas cidades sobrepostas como agora.
Bem próximos do aeroporto onde
descem os turistas em busca de sol e
prazeres e onde exercemos com trapalhadas e afeto nossa soberania, estão dois territórios sem lei e sem autoridade. Não fossem tão perigosos,
nossos gringos deveriam conhecê-los
para entender um pouco mais a cidade. Foram batizados, pelos comandos
de traficantes que se enfrentam abertamente e pela polícia acuada, de
Faixa de Gaza e Vietnã.
Como diz o nosso filósofo Zeca Pagodinho, tá ruim, mas tá bom.
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