São Paulo, terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Próximo Texto | Índice

Hora de autocrítica

Mão pesada do BC inibiu crescimento da economia sem necessidade; Copom deveria rever suas opções para não repetir o erro

O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que baliza o sistema de metas de inflação, acumulou alta de 3,1% em 2006 de acordo com o IBGE. Ficou praticamente um ponto e meio de percentagem abaixo do centro da meta (4,5%).
Esse resultado decorre de uma combinação de fatores: a manutenção de juros elevados, o dólar em queda, os preços dos alimentos inibidos e os reajustes menores -alguns até negativos- nas tarifas e nos outros preços administrados pelo governo.
Os serviços públicos com reajustes definidos por contratos (em geral atrelados à inflação passada) subiram menos, refletindo a forte valorização do real em 2005. A energia, por exemplo, aumentou apenas 0,28% em 2006, ante 8% em 2005. A telefonia fixa teve queda de 0,8%, contra alta de 6,7% no ano anterior.
Apesar dos efeitos benéficos da baixa inflação, sobretudo no poder de compra das famílias mais pobres, a manutenção de uma política monetária mais restritiva do que o necessário inibiu o crescimento do PIB e, por conseguinte, do mercado de trabalho. As projeções para a expansão da economia foram reduzidas nos últimos 12 meses. Iniciaram 2006 em 4% e fecharam o ano em 2,7%. A confirmar-se este dado no final de fevereiro, no primeiro governo Lula a economia terá crescido 2,6% ao ano, média idêntica à obtida no mandato inicial de FHC (baixou para 2,1% na segunda gestão do tucano).
A manutenção da taxa de juros básica em um patamar exageradamente elevado ampliou as pressões pela valorização do real, que atingiu 8%, na medida em que fomentou as operações de arbitragem entre os juros externos e os internos, com impactos deletérios sobre a produção industrial. Ramos que absorvem muita mão-de-obra, como o têxtil, o calçadista e o moveleiro, foram os mais prejudicados.
Segundo o Boletim Focus do Banco Central, analistas do mercado financeiro projetam alta de 4% para o IPCA neste ano -novamente abaixo do centro da meta, de 4,5%. A média das projeções para o desempenho do PIB em 2007 está em modestos 3,5%. Os principais indicadores da atividade econômica emitem sinais contraditórios, o que configura uma frágil recuperação.
A expansão do consumo, associada ao dólar barato, não está estimulando como poderia a produção doméstica, pois favorece as importações. Está limitado, desde logo, um impulso de demanda que não cria os empregos e a renda necessários para sustentá-lo ao longo do tempo.
No momento em que o BC cogita diminuir o ritmo de redução da Selic, é importante que seus diretores tenham lucidez e realizem uma autocrítica sobre as suas opções no ano passado. Debitar capacidade de crescimento da economia significa solapar o objetivo de perseguir uma inflação persistentemente baixa.


Próximo Texto: Editoriais: Suplência distorcida

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.