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Hora de autocrítica
Mão pesada do BC inibiu crescimento da economia sem necessidade; Copom deveria rever suas opções para não repetir o erro
O IPCA (Índice de Preços
ao Consumidor Amplo), que baliza o sistema de metas de inflação, acumulou alta de 3,1% em
2006 de acordo com o IBGE. Ficou praticamente um ponto e
meio de percentagem abaixo do
centro da meta (4,5%).
Esse resultado decorre de uma
combinação de fatores: a manutenção de juros elevados, o dólar
em queda, os preços dos alimentos inibidos e os reajustes menores -alguns até negativos- nas
tarifas e nos outros preços administrados pelo governo.
Os serviços públicos com reajustes definidos por contratos
(em geral atrelados à inflação
passada) subiram menos, refletindo a forte valorização do real
em 2005. A energia, por exemplo, aumentou apenas 0,28% em
2006, ante 8% em 2005. A telefonia fixa teve queda de 0,8%, contra alta de 6,7% no ano anterior.
Apesar dos efeitos benéficos da
baixa inflação, sobretudo no poder de compra das famílias mais
pobres, a manutenção de uma
política monetária mais restritiva do que o necessário inibiu o
crescimento do PIB e, por conseguinte, do mercado de trabalho.
As projeções para a expansão da
economia foram reduzidas nos
últimos 12 meses. Iniciaram
2006 em 4% e fecharam o ano
em 2,7%. A confirmar-se este dado no final de fevereiro, no primeiro governo Lula a economia
terá crescido 2,6% ao ano, média
idêntica à obtida no mandato inicial de FHC (baixou para 2,1% na
segunda gestão do tucano).
A manutenção da taxa de juros
básica em um patamar exageradamente elevado ampliou as
pressões pela valorização do real,
que atingiu 8%, na medida em
que fomentou as operações de
arbitragem entre os juros externos e os internos, com impactos
deletérios sobre a produção industrial. Ramos que absorvem
muita mão-de-obra, como o têxtil, o calçadista e o moveleiro, foram os mais prejudicados.
Segundo o Boletim Focus do
Banco Central, analistas do mercado financeiro projetam alta de
4% para o IPCA neste ano -novamente abaixo do centro da meta, de 4,5%. A média das projeções para o desempenho do PIB
em 2007 está em modestos 3,5%.
Os principais indicadores da atividade econômica emitem sinais
contraditórios, o que configura
uma frágil recuperação.
A expansão do consumo, associada ao dólar barato, não está
estimulando como poderia a
produção doméstica, pois favorece as importações. Está limitado, desde logo, um impulso de
demanda que não cria os empregos e a renda necessários para
sustentá-lo ao longo do tempo.
No momento em que o BC cogita diminuir o ritmo de redução
da Selic, é importante que seus
diretores tenham lucidez e realizem uma autocrítica sobre as
suas opções no ano passado. Debitar capacidade de crescimento
da economia significa solapar o
objetivo de perseguir uma inflação persistentemente baixa.
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