São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

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Editoriais

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Agitações de oratória


Iniciativas concretas de curto prazo, e não frases demagógicas, são necessárias para atenuar efeitos do desemprego

ABANDONOU-SE , já faz algum tempo, o otimismo oficial em torno do suposto "descolamento" do Brasil diante da crise econômica internacional. Os dados referentes à queda no emprego industrial -a maior desde 2003- não dão margem a dúvidas quanto à extensão dos problemas que se configuram para os próximos meses.
Em algumas áreas do governo federal, contudo, persiste a tendência para a verbalização impensada. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, incorre por exemplo nesse gênero de atitudes, que um ambiente de incertezas e tensões talvez até termine por estimular.
"Não há motivo para demitir os trabalhadores", declarou nesta terça-feira, como se a decisão de cortar vagas, num quadro de evidente declínio da demanda, fosse resultado de mero capricho empresarial. O ministro ainda anunciou a possibilidade de retaliações -como vetar empréstimos oficiais a empresas que demitam funcionários.
A atitude não se presta a maiores comentários, pressupondo-se que entre as autoridades econômicas ninguém cogitaria de levá-la a sério; não deixa de ser indicativa, entretanto, das probabilidades de atrito retórico que começam a surgir no ambiente, quando diminuem as margens de conforto asseguradas pelo bom desempenho da economia até recentemente.
É num clima relativamente áspero, assim, que tendem a ser recebidas as propostas de lideranças empresariais, reunidas na Fiesp nesta quarta-feira, em torno de uma redução de salários e da jornada de trabalho, a serem negociadas com as centrais de trabalhadores. A CUT defende que tais iniciativas sejam acompanhadas de uma garantia mínima de estabilidade no emprego. Por sua vez, a Força Sindical anuncia agora a suspensão das negociações por dez dias.
Descontada a espuma retórica que costuma acompanhar as tratativas desse gênero, ninguém haverá de ignorar o irrealismo de qualquer proposta de estabilidade no emprego numa situação econômica tão incerta como a atual. Dificilmente se poderia aplicar a todos os setores da economia um mesmo tipo de acordo, e muito menos caberia ao governo exercer pressões no sentido de que seja aceito pelos participantes da negociação -cujas variáveis e limites, de resto, já estão previstos em lei.
Infelizmente, é restrito o espectro das ações genéricas, aplicáveis ao conjunto da economia, capazes de atenuar os efeitos do desemprego. Nem por isso é menos urgente a sua adoção.
Ampliar o prazo do seguro-desemprego, hoje limitado a cinco parcelas, e diminuir a carga tributária que atualmente pesa sobre as folhas de pagamento, são providências que, ao lado de uma redução significativa da taxa de juros, podem ser tomadas a curto prazo. Diante dos desafios que se colocam para a economia em 2009, ainda faltam respostas cabais; mas é certo que agitações de oratória de nada contribuem para conjurá-los.


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