São Paulo, sábado, 16 de janeiro de 2010

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TENDÊNCIAS/DEBATES


A relação dos EUA com a América Latina mudou neste primeiro ano de governo Barack Obama?

SIM

Uma nova abordagem às Américas

ERIC FARNSWORTH

COMO MOSTROU a resposta dos EUA à crise no Haiti -maciça, imediata e sem prazo para terminar-, as mudanças chegaram à política americana em direção ao hemisfério Ocidental. Talvez as expectativas exageradamente altas ainda não tenham sido plenamente atendidas, mas, mesmo assim, é inegável que a administração Obama segue uma abordagem às Américas que é diferente da de seu predecessor.
Começando com a Cúpula das Américas, a administração Obama traçou um plano baseado na cooperação com parceiros dispostos a promover uma agenda aberta, fundamentada na recuperação econômica, no desenvolvimento de longo prazo, no alívio da pobreza e na cooperação energética. Dominou o desejo de, acima de tudo, mudar o tom das relações hemisféricas e restaurar a ideia de que, mesmo quando os líderes discordam, eles ainda podem dialogar.
Como demonstração de boa vontade, a administração Obama mostrou que estava levando a parceria a sério no contexto global. Os EUA receberam países como Brasil, Argentina e México em discussões visando a coordenar a recuperação financeira e econômica global. Talvez mais importante, assinalaram um desejo de converter o G20 no fórum financeiro global principal, suplantando o G8, em parte para institucionalizar um papel latino-americano nessas discussões. Além disso, antes da cúpula, a administração anunciou a redução de certas restrições a Cuba, incluindo viagens e comunicações, e assinalou sua disposição de avançar mais, dependendo de ações recíprocas concretas em direção à democracia serem realizadas pelo regime Castro.
Mas uma parceria requer parceiros.
Na primeira ocasião após a cúpula para demonstrar disposição de cooperar -na Assembleia Geral da OEA, em Honduras-, boa parte do hemisfério forçou um confronto político com Cuba que foi desnecessário e contraproducente, em vez de tomar nota das medidas previamente anunciadas e de iniciativas encorajadoras adicionais de Washington.
A resposta dos EUA à crise democrática em Honduras assinalou mais uma mudança em relação às "maneiras de fazer negócios" anteriores. De fato, imediatamente depois de o presidente Zelaya ter sido afastado do poder, os EUA condenaram o golpe e trabalharam com o presidente Arias, da Costa Rica, para estabelecer um processo para devolver Zelaya ao poder, ao mesmo tempo trabalhando para assegurar que as eleições previamente programadas fossem realizadas de forma livre e justa.
Infelizmente, outros no hemisfério trabalharam em sentido diferente, procurando solapar as eleições hondurenhas e atirar esse país em um estado de turbulência política permanente, um cenário que teria sido perigoso e insustentável.
Mas talvez o melhor exemplo da nova abordagem dos EUA ao hemisfério diga respeito a questões comerciais. A expansão comercial no hemisfério Ocidental foi sem dúvida uma prioridade da administração Bush.
Contudo, a administração Obama deixou que acordos pendentes com a Colômbia e o Panamá ficassem em compasso de espera. Ela cancelou um programa bem-sucedido para autorizar caminhões mexicanos a ingressar nos Estados Unidos, sob medidas previstas pelo Tratado Norte-Americano de Livre Comércio. Ela não buscou do Congresso uma autorização de negociações comerciais que lhe permitisse concluir as negociações comerciais globais de Doha, que são tão importantes para o Brasil.
Os observadores que talvez esperassem que os EUA sob Obama deixassem de agir como superpotência, se afastassem do combate às drogas, abandonassem aliados que enfrentam desafios de segurança, como Colômbia e México, e se alinhassem com movimentos populistas e líderes anti-EUA vão se decepcionar.
Aqueles que têm uma visão objetiva dos EUA, porém, terão que concluir que sua política para as Américas mudou. A questão agora é se os líderes regionais vão responder com um novo espírito de parceria ou se vão continuar com o "business as usual".


ERIC FARNSWORTH, mestre em relações internacionais, é vice-presidente do Conselho das Américas, em Washington. É ex-funcionário do Departamento de Estado dos EUA e trabalhou na Casa Branca como assessor político sênior para Assuntos Hemisféricos (1995-1998).

Tradução de Clara Allain .

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