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TENDÊNCIAS/DEBATES
A relação dos EUA com a América Latina mudou neste primeiro ano de governo Barack Obama?
SIM
Uma nova abordagem às Américas
ERIC FARNSWORTH
COMO MOSTROU a resposta dos
EUA à crise no Haiti -maciça,
imediata e sem prazo para terminar-, as mudanças chegaram à política americana em direção ao hemisfério Ocidental. Talvez as expectativas exageradamente altas ainda
não tenham sido plenamente atendidas, mas, mesmo assim, é inegável
que a administração Obama segue uma abordagem às Américas que é diferente da de seu predecessor.
Começando com a Cúpula das
Américas, a administração Obama
traçou um plano baseado na cooperação com parceiros dispostos a promover uma agenda aberta, fundamentada na recuperação econômica, no desenvolvimento de longo prazo, no alívio da pobreza e na cooperação energética. Dominou o desejo de, acima de
tudo, mudar o tom das relações hemisféricas e restaurar a ideia de que,
mesmo quando os líderes discordam, eles ainda podem dialogar.
Como demonstração de boa vontade, a administração Obama mostrou
que estava levando a parceria a sério
no contexto global. Os EUA receberam países como Brasil, Argentina e
México em discussões visando a coordenar a recuperação financeira e econômica global. Talvez mais importante, assinalaram um desejo de converter o G20 no fórum financeiro global
principal, suplantando o G8, em parte
para institucionalizar um papel latino-americano nessas discussões.
Além disso, antes da cúpula, a administração anunciou a redução de
certas restrições a Cuba, incluindo
viagens e comunicações, e assinalou
sua disposição de avançar mais, dependendo de ações recíprocas concretas em direção à democracia serem realizadas pelo regime Castro.
Mas uma parceria requer parceiros.
Na primeira ocasião após a cúpula para demonstrar disposição de cooperar -na Assembleia Geral da OEA,
em Honduras-, boa parte do hemisfério forçou um confronto político
com Cuba que foi desnecessário e
contraproducente, em vez de tomar
nota das medidas previamente anunciadas e de iniciativas encorajadoras adicionais de Washington.
A resposta dos EUA à crise democrática em Honduras assinalou mais
uma mudança em relação às "maneiras de fazer negócios" anteriores.
De fato, imediatamente depois de o
presidente Zelaya ter sido afastado do
poder, os EUA condenaram o golpe e
trabalharam com o presidente Arias,
da Costa Rica, para estabelecer um
processo para devolver Zelaya ao poder, ao mesmo tempo trabalhando
para assegurar que as eleições previamente programadas fossem realizadas de forma livre e justa.
Infelizmente, outros no hemisfério
trabalharam em sentido diferente,
procurando solapar as eleições hondurenhas e atirar esse país em um estado de turbulência política permanente, um cenário que teria sido perigoso e insustentável.
Mas talvez o melhor exemplo da
nova abordagem dos EUA ao hemisfério diga respeito a questões comerciais. A expansão comercial no hemisfério Ocidental foi sem dúvida uma prioridade da administração Bush.
Contudo, a administração Obama
deixou que acordos pendentes com a
Colômbia e o Panamá ficassem em
compasso de espera. Ela cancelou um
programa bem-sucedido para autorizar caminhões mexicanos a ingressar
nos Estados Unidos, sob medidas previstas pelo Tratado Norte-Americano
de Livre Comércio. Ela não buscou do
Congresso uma autorização de negociações comerciais que lhe permitisse
concluir as negociações comerciais
globais de Doha, que são tão importantes para o Brasil.
Os observadores que talvez esperassem que os EUA sob Obama deixassem de agir como superpotência,
se afastassem do combate às drogas,
abandonassem aliados que enfrentam desafios de segurança, como Colômbia e México, e se alinhassem com
movimentos populistas e líderes anti-EUA vão se decepcionar.
Aqueles que têm uma visão objetiva
dos EUA, porém, terão que concluir
que sua política para as Américas mudou. A questão agora é se os líderes regionais vão responder com um novo espírito de parceria ou se vão continuar com o "business as usual".
ERIC FARNSWORTH, mestre em relações internacionais,
é vice-presidente do Conselho das Américas, em Washington. É ex-funcionário do Departamento de Estado dos
EUA e trabalhou na Casa Branca como assessor político
sênior para Assuntos Hemisféricos (1995-1998).
Tradução de Clara Allain .
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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