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Dançando com as piranhas
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Era quase, quase, previsível. A desvalorização de 8,26% foi a
gota de sangue n'água, que serviu apenas para aguçar o apetite das piranhas do cassino financeiro global.
Vieram em busca de mais. Levaram.
Não fossem as vítimas inocentes que
a crise já fez ou ainda fará, daria até
para dizer "bem feito".
O presidente Fernando Henrique
Cardoso passou os quatro anos do primeiro mandato dançando a música
das piranhas, a partitura do chamado
"pensamento único".
Privatizações? Fez, em quatro anos,
mais do que fizera em 12 a rainha-mãe do liberalismo, Margaret
Thatcher, como comentou uma publicação britânica, logo orgulhosamente
reproduzida pelo aparato de comunicação oficial.
Desregulamentação? Fez, quebrou
quase todos os monopólios. Abertura
da economia? Até aprofundou a que o
governo Collor iniciara, ainda que
FHC, em dado momento, a tivesse
considerado "precipitada".
Ficaram, é verdade, os déficits das
contas internas e externas. Mas o externo é filho da abertura, embora um
filho abastardado por uma política
cambial que tinha mais de fé religiosa
do que de fundamentação econômica.
O déficit interno tem muitos pais,
mas não é, em hipótese alguma, produto de uma convicção ideológica de
que o poder público tem mesmo que
aplicar em investimentos produtivos
ou em um colchão social.
FHC fez, pois, ideologicamente, tudo
o que mandam as piranhas do cassino. O que aconteceu? Aconteceu o que
o terrorismo dos porta-vozes das piranhas dizia que aconteceria se Luiz
Inácio Lula da Silva tivesse sido o eleito. Ou seja, uma fuga de capitais de
proporções amazônicas. E a consequente capitulação.
FHC tem mais quatro anos para
dançar outra música, se houver e se
for possível. Sob pena de terminar tão
pateticamente como outros ex-"darlings" da ideologia hegemônica, como
o mexicano Salinas de Gortari, o indonésio Suharto e o russo Boris Ieltsin.
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