São Paulo, sábado, 16 de janeiro de 1999

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Dançando com as piranhas

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Era quase, quase, previsível. A desvalorização de 8,26% foi a gota de sangue n'água, que serviu apenas para aguçar o apetite das piranhas do cassino financeiro global. Vieram em busca de mais. Levaram.
Não fossem as vítimas inocentes que a crise já fez ou ainda fará, daria até para dizer "bem feito".
O presidente Fernando Henrique Cardoso passou os quatro anos do primeiro mandato dançando a música das piranhas, a partitura do chamado "pensamento único".
Privatizações? Fez, em quatro anos, mais do que fizera em 12 a rainha-mãe do liberalismo, Margaret Thatcher, como comentou uma publicação britânica, logo orgulhosamente reproduzida pelo aparato de comunicação oficial.
Desregulamentação? Fez, quebrou quase todos os monopólios. Abertura da economia? Até aprofundou a que o governo Collor iniciara, ainda que FHC, em dado momento, a tivesse considerado "precipitada".
Ficaram, é verdade, os déficits das contas internas e externas. Mas o externo é filho da abertura, embora um filho abastardado por uma política cambial que tinha mais de fé religiosa do que de fundamentação econômica.
O déficit interno tem muitos pais, mas não é, em hipótese alguma, produto de uma convicção ideológica de que o poder público tem mesmo que aplicar em investimentos produtivos ou em um colchão social.
FHC fez, pois, ideologicamente, tudo o que mandam as piranhas do cassino. O que aconteceu? Aconteceu o que o terrorismo dos porta-vozes das piranhas dizia que aconteceria se Luiz Inácio Lula da Silva tivesse sido o eleito. Ou seja, uma fuga de capitais de proporções amazônicas. E a consequente capitulação.
FHC tem mais quatro anos para dançar outra música, se houver e se for possível. Sob pena de terminar tão pateticamente como outros ex-"darlings" da ideologia hegemônica, como o mexicano Salinas de Gortari, o indonésio Suharto e o russo Boris Ieltsin.



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