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Pai Nosso
LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
A preparação do Grande Jubileu,
conforme a programação do papa
João Paulo 2º, dedica o ano de 1999
para aprofundarmos o conhecimento
e amor de Deus Pai. Ele é a origem de
tudo e dele "provém toda paternidade no céu e na terra".
Jesus Cristo, ao revelar-nos a beleza
da vida trinitária, ensinou-nos que
Deus Pai nos ama como filhos e que,
por isso, somos todos irmãos. Ele, que
alimenta os pássaros e veste os lírios
do campo (Mt. 6, 26), cuida de todos
nós com carinho materno. É "Pai misericordioso". Quem poderá esquecer
a parábola comovente que nasceu do
coração de Jesus Cristo para nos manifestar o afeto de Deus Pai que acolhe
com festa a volta do filho pródigo e
procura convencer o irmão mais velho a participar de sua alegria?
Na medida em que rezamos a oração
do "Pai Nosso" e descobrimos melhor a paternidade divina, vão se intensificando a atitude de entrega filial
para com o Pai de Jesus Cristo e a
compreensão da irmandade que somos chamados a viver entre nós. Nascem, assim, exigências muito concretas para o nosso relacionamento cotidiano.
1. A primeira é o dever de estima recíproca, profundo respeito à consciência de todos, irmãos e irmãs, na
diversidade de crenças, raças, nações
e culturas. Segue-se a necessidade do
diálogo inter-religioso e do intercâmbio de bens espirituais e materiais. A
confiança que temos em Deus, como
Pai comum, ajuda-nos a acreditar na
bondade divina que oferece a todos os
meios de salvação a nós revelada em
Jesus Cristo. Aprendemos, assim, a
entender a situação dos que não
crêem em Deus, mas que, no mistério
da própria consciência, buscando a
verdade e o bem, são atraídos pelo Pai
celeste e dele se aproximam sem o conhecerem ainda.
2. O anseio de fraternidade entre todos torna-se mais forte para os que
recebem de Cristo a certeza de sermos
amados por Deus, Pai de todos nós.
Isso nos leva a assumir, com maior
convicção, as responsabilidades em
comum: a promoção da justiça e dos
direitos de cada homem e mulher, a
paz e a colaboração entre os povos, o
respeito à obra da criação e a conservação do mundo para as gerações futuras.
3. A percepção do valor de cada pessoa amada pelo Pai faz-nos compreender a obrigação de nos empenhar, em nossas comunidades cristãs,
para que todos tenham o necessário à
vida digna de filhos de Deus. Daí a luta contra a miséria espiritual e material que aflige milhões de pessoas.
Numa atitude de sincero amor a
Deus Pai e Criador, temos que expressar, com maior coerência, a solidariedade com os irmãos carentes e encontrar resposta para muitas perguntas.
Por que falta comida na mesa do pobre e há tanta fome em nosso país?
Que estamos fazendo para minorar os
efeitos da seca que perdura no Nordeste? Por que aumenta a mendicância e cresce o número de crianças e
adultos que vivem nas ruas? Qual o
caminho para assegurar mais leitos
nos hospitais, atendimento aos aidéticos e remédios para os doentes? Que
fazer para humanizar os presídios?
Como aumentar, a curto prazo, o salário mínimo e as aposentadorias ínfimas? E, ao mesmo tempo, como evitar o escândalo dos que -sem atenção ao povo sofrido- legislam em benefício do próprio salário? Como unir
forças para enfrentar o drama do desemprego?
Será que posso rezar o "Pai Nosso"
e dizer que amo a Deus, quando fecho
as mãos e o coração a seus filhos e filhas?
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.
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