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O governo federal deve renegociar as dívidas dos Estados?
NÃO
Moratória é corda no pescoço do Brasil
CÉSAR BORGES
A renegociação da dívida do governo
federal com os Estados foi um processo
longo, iniciado em 93, quando o presidente da República era justamente o senhor Itamar Franco.
Os critérios da renegociação foram
estabelecidos de maneira amplamente
favorável aos Estados, com longos prazos de resgate e taxas de juros praticamente subsidiadas, se as compararmos
com as do mercado. Além disso, o governo federal se preocupou em fixar em
13% o limite máximo de comprometimento das receitas estaduais, assegurando, assim, aos Estados condições
básicas para o cumprimento de suas
obrigações de pagamento com a folha,
o custeio e ainda fazer investimentos.
Não é o momento de reabrir uma discussão tão complexa como a de renegociar dívidas já renegociadas. É triste e
paradoxal comprová-lo, mas a moratória é uma irresponsabilidade que se
contrapõe à grandeza do Brasil. Não há
como concebê-la, sobretudo quando se
sabe ser ela movida por mesquinhos interesses pessoais e políticos que a consciência nacional repudia fortemente.
O cidadão comum que adquiriu um
bem a prazo e não consegue pagá-lo em
prestações deve devolvê-lo ao seu credor. No mínimo. Da mesma forma, o
governante que se acha incapaz de
honrar seus compromissos, já que bens
não tem a devolver, deveria devolver
seu mandato ao povo.
A moratória é um forte apelo a que se
estabeleça no país o império da desobediência e da desordem. Aos olhos do
cidadão comum, o raciocínio é simples. Ele haverá de imaginar: se o governo caloteia, por que eu, em condições muito mais adversas, também não
posso calotear? E viva a esbórnia.
Este é, ao meu ver, o estrago maior da
bomba lançada sobre os destinos do
Brasil. A irresponsabilidade neste momento da história política, econômica e
social do país é o mais grave crime que
um governante pode cometer. O pretenso calote é um laço que se põe no
pescoço do Brasil e dos brasileiros,
coincidente e paradoxalmente, em plena terra de Tiradentes.
Há Estados brasileiros, inclusive nordestinos, vivendo em meio a imensas
dificuldades, mas que nem por isso têm
deixado de honrar seus compromissos.
Cito o exemplo da Bahia. A dívida total do Estado, posicionada em dezembro de 1998, é de R$ 6,5 bilhões, com
prazo médio para resgate em 20 anos e
taxa média de juros de 6,5% ao ano. Renegociamos nossa dívida mobiliária
em 1997, ao valor de R$ 906 milhões, a
ser paga em 30 anos, com taxa de 6% ao
ano, mais IGP-DI. Antes, o prazo máximo para resgate dessa dívida era de três
anos, a custo anual de 43%.
Nossas receitas são crescentes e podemos fazer a adequação das nossas despesas a elas. Hoje, temos a capacidade
de pagar a folha de pessoal -abaixo
dos 60% da receita, como reza a Constituição Federal-, o custeio e a amortização da dívida, e ainda nos sobram
recursos (menos do que desejávamos, é
certo) para investimentos com 15% das
nossas receitas líquidas, o que representa no cenário de nosso crescimento
cerca de R$ 500 milhões anuais.
Esse montante, a que se juntam recursos de privatizações e empréstimos,
vem possibilitando ao governo somar
mais de R$ 1,2 bilhão por ano para investimentos no Estado. Se a negociação
da dívida não tivesse sido feita, o débito
estaria crescendo na razão de 30% a
40% ao ano, por causa das taxas de juros. A negociação significou para a Bahia uma economia de R$ 300 milhões
anuais.
Conseguimos chegar a essa situação
com austeridade, com competência,
mas sobretudo com muita determinação, num trabalho iniciado em 91, no
governo de Antonio Carlos Magalhães.
Foi ele quem desencadeou o processo
de extinção ou fusão de secretarias e órgãos, eliminou a política dos elevados
salários e dos contratos superfaturados
e montou uma estrutura administrativa enxuta e eficiente, antecipando-se a
uma realidade a que todos os outros
Estados e a própria nação precisaram
se adaptar.
A moratória, em quaisquer circunstâncias, repito, é uma corda que se põe
no pescoço do Brasil e dos brasileiros.
Equivocam-se, contudo, aqueles que
pensam poder nos levar ao cadafalso.
Que os percalços que o país vem passando nos últimos dias sirvam pelo menos para despertar na consciência do
governador do segundo maior Estado
brasileiro o bom senso de descortino
do tamanho dos estragos que já causou
ao Brasil e a seu povo.
Por fim, evoco o nome de Luís Eduardo Magalhães, lembrando uma de suas
frases lapidares: "Se a obediência à lei,
por si só, não torna grandes as nações,
a desobediência as destrói".
César Borges, 50, engenheiro civil, é governador da Bahia, reeleito pelo PFL.
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