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TERROR, GUERRA, RECESSÃO
Havia muito tempo que não
se via o ambiente internacional tão perturbado pela insegurança
e pelo pessimismo. Confluem para o
mesmo ponto e se reforçam mutuamente o medo do terrorismo, o medo da guerra e o medo da recessão. A
sensação é a de que as principais decisões políticas do planeta são tomadas num labirinto de irracionalidade.
Algumas das lideranças globais não
apenas têm sido incapazes de romper esse círculo de escuridão. Têm
contribuído decisivamente para
manter as luzes apagadas.
A onda conservadora catapultada
após os insanos atentados de 11 de
setembro reúne elementos talvez
nunca antes associados na política
global e, em especial, na dos EUA.
Os assessores mais radicais do presidente George W. Bush tornaram-se
mais fortes no governo. Leis e decretos presidenciais que fustigaram os
direitos civis -que teriam pouquíssimas chances de serem aprovados
em tempos normais- foram à frente com mínima resistência.
Mas a escalada de ações contra o
espírito, por assim dizer, generoso
da tradição democrática ocidental
não parou por aí. A proposta orçamentária que o governo Bush enviou
há pouco para o Congresso tem sido
considerada mais draconiana no
corte de benefícios sociais e no favorecimento da parcela mais rica da
população do que as "conquistas"
do governo de Ronald Reagan (1981-1989) nessa área.
A mudança de foco na política, porém, não se resumiu aos Estados
Unidos. Nos países desenvolvidos
em geral, pioraram as condições de
vida dos imigrantes e de seus descendentes. Foram açulados preconceitos antigos, como o de que os estrangeiros são os responsáveis pelo desemprego dos "nativos" ou o de que
oneram os serviços de bem-estar social e prejudicam sua qualidade. A
associação imediata entre terrorismo
e imigração também foi reforçada.
Filões maiores dos orçamentos públicos foram destinados a ações e
aparelhos de segurança interna.
A prevalência das doutrinas e das
práticas ultraliberais ao longo das
décadas de 80 e 90 já havia enfraquecido em grande medida a idéia de
que cabe à política -e, por consequência, ao Estado- promover o
bem-estar dos cidadãos, através da
proteção aos mais pobres e da busca
do pleno emprego. O novo conservadorismo, no entanto, associou aquela mesma visão fundamentalista da
liberdade dos mercados a um processo de hipertrofia das estruturas de
segurança do Estado.
Uma ordem ao mesmo tempo policial e ultraliberal parece em franca
gestação. A guerra, a total transferência da arbitragem entre riqueza e
pobreza para o livre mercado e a desconfiança contra imigrantes de países pobres vão sendo tratadas, no
mundo rico, como contrapartidas
para a liberdade nacional.
Ficou relegada ao segundo plano a
concepção da política como o exercício da generosidade e da racionalidade. Que os protestos de ontem em todo o mundo, contra a guerra e pela
resolução pacífica dos conflitos, possam fazer eco na consciência dos
principais governantes do planeta. A
manutenção dos parâmetros ora vigentes na grande política global só
aprofundará a insegurança.
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