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São Paulo, domingo, 16 de fevereiro de 2003

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BATALHAS ECONÔMICAS

À medida que a eclosão de um conflito armado no Iraque parece se avizinhar, a incerteza se avoluma. Como a eclosão da guerra já se vem anunciando há algum tempo, seus efeitos econômicos adversos ao Brasil já se fazem sentir. Ainda assim, ao iniciar-se a guerra tais efeitos provavelmente se agravariam: de um lado, aumentariam as pressões de alta sobre o preço internacional do petróleo; de outro, a aversão global ao risco também tenderia a recrudescer- o que manteria bastante escassa a oferta de empréstimos a países considerados de maior risco.
Isso tenderia a se traduzir num reforço das pressões sobre a cotação do dólar no Brasil e, portanto, das pressões inflacionárias. Cabe discutir de que maneira as autoridades econômicas brasileiras poderiam responder às dificuldades potencialmente agravadas pela guerra.
As sinalizações até agora emitidas por essas autoridades sugerem que sua resposta consistiria em reforçar a dose da política contencionista já em curso. Ou seja, a taxa de juros teria nova elevação -talvez brusca, de vários pontos percentuais- e eventualmente também o superávit nas contas públicas seria aumentado (para impedir que, pressionada pelos juros e dólar mais altos, a dívida pública continuasse a se expandir).
Embora vá ao encontro das recomendações de alguns analistas (em especial daqueles ligados a interesses financeiros), essa maneira de responder ao eventual agravamento do quadro externo é questionável não apenas pelo seu custo social mas também por sua eficácia duvidosa.
Agravar os vetores recessivos que já inibem a criação de empregos, além de doloroso tenderia a ser desnecessário independentemente do modo pelo qual a guerra se desenrolar.
Se a guerra for curta e seus impactos econômicos adversos se diluírem depressa, o aperto monetário e fiscal adicional poderá ser logo revertido. Mas já terá cobrado um preço ao agravar os fatores de inibição do consumo e do investimento.
Já se um cenário mais desfavorável se impuser, com o prolongamento da guerra e de seus efeitos prejudiciais, o aumento dos juros e o corte de gastos públicos pouco contribuirão para impedir pressões sobre o dólar e a inflação. Com a aversão global ao risco em alta, a escassez de dólares não tenderia a ser aliviada por meio de juros mais altos e demonstrações de austeridade fiscal. O que poderia se impor, isto sim, seria a necessidade de pleitear um reforço do apoio financeiro do FMI.
Em qualquer dessas hipóteses, mas especialmente na mais adversa, caberia persistir na noção de que, sob o impacto de choques de custo violentos, a política econômica não deve buscar reduzir a inflação de modo abrupto. Foi esse entendimento que justificou, há algumas semanas, a decisão de elevar a meta inflacionária que o BC perseguirá em 2003. Se houver guerra, novo aumento da taxa de inflação que as autoridades "tolerarão" neste ano será justificável e preferível a deflagrar uma recessão.



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