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BATALHAS ECONÔMICAS
À medida que a eclosão de um
conflito armado no Iraque parece se avizinhar, a incerteza se avoluma. Como a eclosão da guerra já se
vem anunciando há algum tempo,
seus efeitos econômicos adversos ao
Brasil já se fazem sentir. Ainda assim, ao iniciar-se a guerra tais efeitos
provavelmente se agravariam: de um
lado, aumentariam as pressões de alta sobre o preço internacional do petróleo; de outro, a aversão global ao
risco também tenderia a recrudescer- o que manteria bastante escassa a oferta de empréstimos a países
considerados de maior risco.
Isso tenderia a se traduzir num reforço das pressões sobre a cotação
do dólar no Brasil e, portanto, das
pressões inflacionárias. Cabe discutir de que maneira as autoridades
econômicas brasileiras poderiam
responder às dificuldades potencialmente agravadas pela guerra.
As sinalizações até agora emitidas
por essas autoridades sugerem que
sua resposta consistiria em reforçar a
dose da política contencionista já em
curso. Ou seja, a taxa de juros teria
nova elevação -talvez brusca, de vários pontos percentuais- e eventualmente também o superávit nas
contas públicas seria aumentado
(para impedir que, pressionada pelos juros e dólar mais altos, a dívida
pública continuasse a se expandir).
Embora vá ao encontro das recomendações de alguns analistas (em
especial daqueles ligados a interesses financeiros), essa maneira de responder ao eventual agravamento do
quadro externo é questionável não
apenas pelo seu custo social mas
também por sua eficácia duvidosa.
Agravar os vetores recessivos que já
inibem a criação de empregos, além
de doloroso tenderia a ser desnecessário independentemente do modo
pelo qual a guerra se desenrolar.
Se a guerra for curta e seus impactos econômicos adversos se diluírem
depressa, o aperto monetário e fiscal
adicional poderá ser logo revertido.
Mas já terá cobrado um preço ao
agravar os fatores de inibição do consumo e do investimento.
Já se um cenário mais desfavorável
se impuser, com o prolongamento
da guerra e de seus efeitos prejudiciais, o aumento dos juros e o corte
de gastos públicos pouco contribuirão para impedir pressões sobre o
dólar e a inflação. Com a aversão global ao risco em alta, a escassez de dólares não tenderia a ser aliviada por
meio de juros mais altos e demonstrações de austeridade fiscal. O que
poderia se impor, isto sim, seria a necessidade de pleitear um reforço do
apoio financeiro do FMI.
Em qualquer dessas hipóteses,
mas especialmente na mais adversa,
caberia persistir na noção de que,
sob o impacto de choques de custo
violentos, a política econômica não
deve buscar reduzir a inflação de modo abrupto. Foi esse entendimento
que justificou, há algumas semanas,
a decisão de elevar a meta inflacionária que o BC perseguirá em 2003. Se
houver guerra, novo aumento da taxa
de inflação que as autoridades "tolerarão" neste ano será justificável e
preferível a deflagrar uma recessão.
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