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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
O gelo que queima
Encerrando esta série de ensaios
sobre as alternativas energéticas
que os Estados Unidos poderiam usar
em lugar de buscar o petróleo por
meio da guerra, focalizo neste artigo o
caso do gás natural.
Os Estados Unidos parecem ter descoberto recentemente as grandes vantagens do gás natural. Cerca de 50%
das usinas ora em construção naquele
país serão abastecidas por gás, que é
mais barato do que o petróleo, mais
eficiente e menos poluente. Além disso, cerca de 4 milhões de veículos estarão rodando com gás até o ano 2005, o
que ainda é pouco em vista da potencialidade daquele energético.
As reservas confirmadas dos Estados Unidos representam menos de
5% do total do mundo. Na base do
consumo atual, isso daria para apenas
alguns poucos anos. O que dizer, então, se o consumo aumentar?
O gás natural tem sido muito pouco
explorado. A maioria das usinas usa
gases que são subprodutos da própria
produção de petróleo. Tais processos
são ineficientes e dão pouco resultado.
E daí? Ocorre que a natureza nos reservou uma grata surpresa nesse campo. Pesquisas recentes têm revelado
uma gigantesca fonte de gás natural
nas regiões mais profundas dos oceanos. Trata-se de uma combinação de
moléculas de metano e moléculas de
água (hidratos de metano) que existe
na forma de cristais, a baixíssimas
temperaturas -uma espécie de gelo
que queima.
Só nos mares americanos há cerca
de 600 trilhões de metros cúbicos desse gás, o que daria para abastecer os
Estados Unidos por mais de 2.000
anos! Esse é um presente divino para
um mundo que precisa de gigantescas
quantidades de energia para tocar os
projetos humanos.
Empresas japonesas e americanas já
investem milhões de dólares na pesquisa de tecnologias voltadas para a
extração desse gás. O grande desafio é
evitar que o gás escape no momento
de ser canalizado -o que causaria
acidentes de grandes proporções (forte aquecimento da terra, terremotos,
contaminação de culturas e envenenamento de animais, inclusive seres
humanos).
Mais de 50% do carbono do mundo
está no fundo do mar. A luta da ciência é para encontrar formas de evitar a
todo o custo a liberação desordenada
desses gases. Mas os pesquisadores estão animados. Eles acreditam que os
hidratos de metano virão a ser a grande solução energética do século 21.
É claro que tais soluções demandam
tempo e muitos investimentos. Mas os
avanços científicos e as grandes descobertas costumam ocorrer quando há
uma forte pressão de demanda por
novas soluções.
Tudo indica que as primeiras décadas deste século trarão inovações de
grande vulto na área energética. Para
que isso se acelere, seria melhor para
os Estados Unidos gastarem seus preciosos recursos apoiando os cientistas
no desbravamento desses segredos
em lugar de canalizá-los à construção
de armamentos para se apoderar da
energia alheia.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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