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São Paulo, domingo, 16 de fevereiro de 2003

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

O gelo que queima

Encerrando esta série de ensaios sobre as alternativas energéticas que os Estados Unidos poderiam usar em lugar de buscar o petróleo por meio da guerra, focalizo neste artigo o caso do gás natural.
Os Estados Unidos parecem ter descoberto recentemente as grandes vantagens do gás natural. Cerca de 50% das usinas ora em construção naquele país serão abastecidas por gás, que é mais barato do que o petróleo, mais eficiente e menos poluente. Além disso, cerca de 4 milhões de veículos estarão rodando com gás até o ano 2005, o que ainda é pouco em vista da potencialidade daquele energético.
As reservas confirmadas dos Estados Unidos representam menos de 5% do total do mundo. Na base do consumo atual, isso daria para apenas alguns poucos anos. O que dizer, então, se o consumo aumentar?
O gás natural tem sido muito pouco explorado. A maioria das usinas usa gases que são subprodutos da própria produção de petróleo. Tais processos são ineficientes e dão pouco resultado.
E daí? Ocorre que a natureza nos reservou uma grata surpresa nesse campo. Pesquisas recentes têm revelado uma gigantesca fonte de gás natural nas regiões mais profundas dos oceanos. Trata-se de uma combinação de moléculas de metano e moléculas de água (hidratos de metano) que existe na forma de cristais, a baixíssimas temperaturas -uma espécie de gelo que queima.
Só nos mares americanos há cerca de 600 trilhões de metros cúbicos desse gás, o que daria para abastecer os Estados Unidos por mais de 2.000 anos! Esse é um presente divino para um mundo que precisa de gigantescas quantidades de energia para tocar os projetos humanos.
Empresas japonesas e americanas já investem milhões de dólares na pesquisa de tecnologias voltadas para a extração desse gás. O grande desafio é evitar que o gás escape no momento de ser canalizado -o que causaria acidentes de grandes proporções (forte aquecimento da terra, terremotos, contaminação de culturas e envenenamento de animais, inclusive seres humanos).
Mais de 50% do carbono do mundo está no fundo do mar. A luta da ciência é para encontrar formas de evitar a todo o custo a liberação desordenada desses gases. Mas os pesquisadores estão animados. Eles acreditam que os hidratos de metano virão a ser a grande solução energética do século 21.
É claro que tais soluções demandam tempo e muitos investimentos. Mas os avanços científicos e as grandes descobertas costumam ocorrer quando há uma forte pressão de demanda por novas soluções.
Tudo indica que as primeiras décadas deste século trarão inovações de grande vulto na área energética. Para que isso se acelere, seria melhor para os Estados Unidos gastarem seus preciosos recursos apoiando os cientistas no desbravamento desses segredos em lugar de canalizá-los à construção de armamentos para se apoderar da energia alheia.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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