SÃO PAULO - Mesmo em gente cética sobre as coisas da política havia causado impressão o excesso de vulgaridade despudorada com que o PT trocara a roupa ideológica em público, entre a campanha eleitoral de 2002 e o início do governo Lula.
É verdade que desde 1995 ficara evidente o progressivo acaudilhamento do partido pelo atual presidente da República, com o apoio de sua guarda do comitê central, que desde então procurava inocular no restante do petismo a idéia de que, sem realpolitik crua, dura e pura, não chegariam ao poder. Nada de novo nisso, nada de espantoso que o PT "rosa" enfim tivesse sucesso eleitoral, como na eleição de 2000.
Mas foi impressionante a velocidade com que o petismo-lulismo passou de partido operário a uma burocracia de quadros políticos profissionalizados e daí ao arrivismo do neopoderoso, ao seu cinismo ávido de prebendas, à patranhice desavergonhada. É como se o PT fizesse em uma década o percurso de quase cem anos do esclerosamento dos partidos da social-democracia européia, de resto os ultrapassando em decadência.
O governo Lula não se parece mais e mais com o governo FHC. O petismo-lulismo se tornou uma caricatura grossa do tucanismo de direita, mas ainda mais vulgar. A farra do Banco Central e do mercado é maior, a razia dos juros sobre a dívida pública também. O governo FHC sempre deixou o seu baixo clero flertar com o bingo, bicheiros e toda essa canalha do jogo. O governo Lula a levou para dentro da sede do governo, para não falar da amizade de políticos petistas com a jogatina.
Agora está para se ver escárnio ainda maior. O PT, até outro dia ponta-de-lança do moralismo jacobino pé-de-chinelo, está prestes a se passar ao vexame de dizer que o corrupto que acharam no Planalto é "um caso isolado", que CPI é "oportunismo político da oposição" (mas o "caso isolado", o seu Waldomiro, era o prático-mor de fisiologia petista).
Pior é o risco de desmoralização final da política, dominada pela gentalha. O campo abriu-se para oportunistas de nível ainda mais baixo.


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