São Paulo, quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

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DESPERDÍCIO EXTRA

Encerrada anteontem, a convocação extraordinária do Congresso Nacional bem poderia ser qualificada como um desperdício extraordinário. O contribuinte desembolsou quase R$ 100 milhões, em dois meses, apenas para que os parlamentares mantivessem seu hábito de trabalhar pouco e, nas votações, passar ao largo de temas relevantes.
O único destaque positivo do período foi a aprovação do projeto que reduz de 90 para 55 dias o recesso parlamentar e elimina o salário adicional em convocações extraordinárias. A medida foi sem dúvida um avanço louvável e necessário para a moralização do Legislativo, mas não basta para justificar a convocação.
Afora isso, quase nada se fez. Mesmo matérias urgentes, como o Orçamento da União para 2006, que deveria ter sido votado no ano passado, foram deixadas para depois do Carnaval. As CPIs tiveram um desempenho insatisfatório, com relatórios mornos e poucas conclusões importantes. A maior decepção ficou por conta dos processos de cassação de deputados federais. Embora os trabalhos do Conselho de Ética da Câmara tenham avançado, nenhum caso foi levado a plenário.
Além da habitual improdutividade, houve, de quebra, espetáculos de descaso e negligência. Na Câmara, as ausências de deputados nas sessões de sextas e segundas levaram o presidente da Casa, Aldo Rebelo (PC do B-SP), à esdrúxula conclusão de que deveria estabelecer uma cota mínima de presença a ser cumprida pelas bancadas dos partidos. Desenvolvendo a "idéia", Rebelo determinou que um décimo das bancadas compareceria, enquanto o restante permaneceria em casa, usufruindo de um fim de semana de quatro dias e recebendo salários extras. Mas nem o rodízio de Rebelo funcionou.
Com esse desempenho lamentável, os congressistas fazem pouco para recuperar a sua imagem e -mais grave- a de sua instituição perante a opinião pública. Que o eleitor tome nota do descaso e cobre a fatura no pleito de outubro, negando direito de retorno aos maus políticos.


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