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SEM SOLUÇÃO FÁCIL
O impasse em que resultou a
eleição presidencial haitiana é
um daqueles para o qual todas as soluções possíveis parecem ruins. Em
que pesem o surpreendente comparecimento às urnas na semana passada e o clima relativamente pacífico
em que o pleito transcorreu, as falhas
na organização foram muitas e agora se materializam na forma de dúvidas em relação à lisura do processo.
Com efeito, são bastante verossímeis as acusações de fraude lançadas
pelo candidato favorito à Presidência, René Préval. São vários os indícios de irregularidades. Para citar o
mais grave, centenas de urnas e votos
parcialmente queimados foram encontrados num depósito de lixo nos
arredores da capital, Porto Príncipe.
No momento em que as apurações
foram suspensas por temor de uma
explosão de violência, 90% dos votos
já haviam sido contabilizados, e Préval detinha 48,8%, 1,2 ponto percentual menos do que o necessário para
dispensar o segundo turno.
É preciso agora investigar as suspeitas. Se a comissão eleitoral decidir
que houve irregularidades suficientes para invalidar o pleito, nova eleição precisa ser marcada. Caso contrário, as apurações devem prosseguir. Se Préval vencer no primeiro escrutínio, ótimo -diminuem as
chances de o processo eleitoral degenerar em violência.
Se, entretanto, não atingir os 50%,
será necessário um segundo turno,
como determina a legislação eleitoral. Pelos resultados até aqui obtidos,
parecem pequenas as chances de que
Préval não venha a ser o consagrado.
Essas observações podem parecer
óbvias, mas ater-se à estrita legalidade neste momento de crise é um imperativo. Declarações como a do assessor especial da Presidência para
Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, de que é preciso encontrar uma fórmula para proclamar
Préval presidente, correm o risco de
ser interpretadas como um convite
ao golpe. Tudo o que o Haiti não precisa é de mais um líder cuja legitimidade possa ser colocada em dúvida.
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