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CALMA TENSA NA ÁSIA
A crise na Ásia já não se manifesta
sob a forma de pânicos financeiros
em cadeia nem se coloca a iminência,
como ocorria há poucas semanas, de
um crash global. Mas, se a fase aguda
passou, novos desajustes, crônicos,
turvam o horizonte.
A dificuldade maior, neste momento, é de ordem social e, portanto, tem
impacto direto sobre a estabilidade
de alguns governos da região. Na Coréia do Sul, as reações sindicais parecem ter assumido a mesma ciclotimia das Bolsas e das moedas.
Primeiro foi anunciado um pacto
social que permitiria a flexibilização
da legislação trabalhista, facilitando
as demissões. A notícia foi saudada
pelos mercados financeiros, com alta de ações na Bolsa. Mas logo depois
veio a notícia de que não ocorreria o
pacto, e sim uma greve geral. Desencadeou-se nova crise financeira, até
que a greve foi desmarcada.
Na Indonésia, a desagregação social decorre de problemas talvez até
mais dramáticos, como a perspectiva
de uma falta generalizada de alimentos. O governo, na tentativa de criar
subitamente uma onda de confiança,
anunciou a criação iminente de um
"currency board" (Câmara da Moeda), sistema semelhante ao de Hong
Kong, que mantém a taxa de câmbio
fixa (como também a Argentina).
Entretanto, é impraticável congelar
o câmbio num ambiente de turbulência social e incerteza política. O ditador Suharto já fala em "desintegração" do país. Aliás, mesmo as instituições que tentam dar sustentação
ao ajuste asiático, como o Banco
Mundial e o FMI, junto com o Tesouro dos EUA, colocaram em dúvida a
viabilidade da proposta. A resposta
dos mercados à ausência de horizontes foi uma nova onda de fuga de capitais e realização de lucros em Bolsas da região que ensaiavam uma retomada, a exemplo de Tóquio.
Não se sabe, diante dessas dificuldades crônicas, se haverá uma nova
contaminação do circuito financeiro
internacional. A aparente calma na
Ásia e no mundo, por enquanto, parece episódica, tensa e angustiada.
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