São Paulo, segunda, 16 de fevereiro de 1998

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CALMA TENSA NA ÁSIA

A crise na Ásia já não se manifesta sob a forma de pânicos financeiros em cadeia nem se coloca a iminência, como ocorria há poucas semanas, de um crash global. Mas, se a fase aguda passou, novos desajustes, crônicos, turvam o horizonte.
A dificuldade maior, neste momento, é de ordem social e, portanto, tem impacto direto sobre a estabilidade de alguns governos da região. Na Coréia do Sul, as reações sindicais parecem ter assumido a mesma ciclotimia das Bolsas e das moedas.
Primeiro foi anunciado um pacto social que permitiria a flexibilização da legislação trabalhista, facilitando as demissões. A notícia foi saudada pelos mercados financeiros, com alta de ações na Bolsa. Mas logo depois veio a notícia de que não ocorreria o pacto, e sim uma greve geral. Desencadeou-se nova crise financeira, até que a greve foi desmarcada.
Na Indonésia, a desagregação social decorre de problemas talvez até mais dramáticos, como a perspectiva de uma falta generalizada de alimentos. O governo, na tentativa de criar subitamente uma onda de confiança, anunciou a criação iminente de um "currency board" (Câmara da Moeda), sistema semelhante ao de Hong Kong, que mantém a taxa de câmbio fixa (como também a Argentina).
Entretanto, é impraticável congelar o câmbio num ambiente de turbulência social e incerteza política. O ditador Suharto já fala em "desintegração" do país. Aliás, mesmo as instituições que tentam dar sustentação ao ajuste asiático, como o Banco Mundial e o FMI, junto com o Tesouro dos EUA, colocaram em dúvida a viabilidade da proposta. A resposta dos mercados à ausência de horizontes foi uma nova onda de fuga de capitais e realização de lucros em Bolsas da região que ensaiavam uma retomada, a exemplo de Tóquio.
Não se sabe, diante dessas dificuldades crônicas, se haverá uma nova contaminação do circuito financeiro internacional. A aparente calma na Ásia e no mundo, por enquanto, parece episódica, tensa e angustiada.



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