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"Os pobres que se explodam"
ELEONORA DE LUCENA
São Paulo - Esse é o novo bordão da
ala mais radical do pensamento liberal. Com eufemismos, disfarces e desculpas econométricas -ou até éticas-, a discussão está em curso: por
que os ricos, os melhores, os competentes, os poderosos devem mover uma
palha para socorrer os pobres, sujos,
ignorantes e corruptos?
Nos Estados Unidos, o debate ocorre
sobre a ajuda do FMI (com dinheiro
norte-americano) aos países asiáticos
em bancarrota. Os extremistas liberais
argumentam que o auxílio iria recompensar ditadores repressores e especuladores traquinas. Querem a lei do
mercado: quebrou, está quebrado.
Não é por acaso que a idéia ganha
peso nos EUA de hoje. Aquecidos na
economia, batendo recordes de desempenho desde a Segunda Guerra Mundial e sem inimigos políticos e ideológicos, eles se perguntam por que precisam se importar com o que acontece
do outro lado da Terra. Absolutos,
não querem abrir suas torneiras com
um novo Plano Marshall.
O último lance dessa posição foi o
pedido de abertura de uma CPI do
FMI feito, na semana passada, pelo
presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos. Líder da
oposição a Clinton, Newt Gingrich
não quer deixar que mais US$ 18 bilhões cheguem aos cofres do fundo.
Do outro lado na discussão, aparecem personalidades defendendo o socorro aos falidos da Ásia. As razões
dos seguidores dessa linha passam
longe de visões humanitárias ou éticas: eles temem que o colapso asiático
acabe afetando as exportações e, depois, o mercado de trabalho em expansão nos EUA.
Afinal, o que seria dos ricos e poderosos se não fossem os pobres e ignorantes?
No Brasil, o debate também existe. O
radical liberal daqui pergunta por que
os ricos devem continuar ajudando a
África, onde as populações se reproduzem descontroladamente e dobram a
cada 25 anos.
E a discussão continua. Praticamente em cada farol fechado de cidade
brasileira.
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