São Paulo, segunda, 16 de fevereiro de 1998

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"Os pobres que se explodam"

ELEONORA DE LUCENA
São Paulo - Esse é o novo bordão da ala mais radical do pensamento liberal. Com eufemismos, disfarces e desculpas econométricas -ou até éticas-, a discussão está em curso: por que os ricos, os melhores, os competentes, os poderosos devem mover uma palha para socorrer os pobres, sujos, ignorantes e corruptos?
Nos Estados Unidos, o debate ocorre sobre a ajuda do FMI (com dinheiro norte-americano) aos países asiáticos em bancarrota. Os extremistas liberais argumentam que o auxílio iria recompensar ditadores repressores e especuladores traquinas. Querem a lei do mercado: quebrou, está quebrado.
Não é por acaso que a idéia ganha peso nos EUA de hoje. Aquecidos na economia, batendo recordes de desempenho desde a Segunda Guerra Mundial e sem inimigos políticos e ideológicos, eles se perguntam por que precisam se importar com o que acontece do outro lado da Terra. Absolutos, não querem abrir suas torneiras com um novo Plano Marshall.
O último lance dessa posição foi o pedido de abertura de uma CPI do FMI feito, na semana passada, pelo presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos. Líder da oposição a Clinton, Newt Gingrich não quer deixar que mais US$ 18 bilhões cheguem aos cofres do fundo.
Do outro lado na discussão, aparecem personalidades defendendo o socorro aos falidos da Ásia. As razões dos seguidores dessa linha passam longe de visões humanitárias ou éticas: eles temem que o colapso asiático acabe afetando as exportações e, depois, o mercado de trabalho em expansão nos EUA.
Afinal, o que seria dos ricos e poderosos se não fossem os pobres e ignorantes?
No Brasil, o debate também existe. O radical liberal daqui pergunta por que os ricos devem continuar ajudando a África, onde as populações se reproduzem descontroladamente e dobram a cada 25 anos.
E a discussão continua. Praticamente em cada farol fechado de cidade brasileira.



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