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São Paulo, domingo, 16 de março de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Lula: sinal amarelo

BRASÍLIA - A era FHC foi marcada por uma declaração que ele, a bem da verdade, sempre negou e considerou lenda: "Esqueçam o que escrevi".
A era Lula, tão no início, já tem também sua marca clara e cada vez mais disseminada pelo governo: "Esqueçam o que nós todos dissemos"
Ao contrário de FHC, ninguém desmente. Basta ver o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), que adora dizer que só não foi ministro porque não quis. E ministro da Fazenda! Disse Mercadante, em bom e alto som, para uma ampla platéia e vários gravadores: "A oposição não ajudou a aprovar as reformas e errou. Se nosso discurso fosse bom, não teríamos perdido duas eleições".
A "oposição", no caso, não é o PSDB, o PFL, José Aníbal ou Jorge Bornhausen. Era o PT, e um dos principais arautos dela era o próprio Mercadante, hoje em fase de mea culpa enquanto o seu governo repete e amplia os juros e os superávits primários altos de FHC, tropeça feio no Fome Zero, o principal programa social, e encampa as reformas tucanas como se petistas fossem. O aliado PPS e agora a CUT reclamam do que já é óbvio: a falta de um projeto.
Bem, taí a explicação mais simples e direta para o resultado da última pesquisa CNT/Sensus sobre a popularidade do novo governo. Lula vai muito bem, obrigado, mas o governo já começa a sentir o peso de ser governo, de ter responsabilidades, de conviver com um país dificílimo e com problemas ancestrais.
O índice de "ótimo" e "bom" caiu de 56,6% para 45%. É mais uma tendência do que realmente um dado pronto e acabado, mas a coisa anda ruim. Ou seja, é um sinal amarelo piscando.
Se não há muito como mudar a economia, Lula deveria dar prioridade mil aos programas sociais. Até agora, há ministério e programa de mais para senso prático de menos.
Para bloquear a tendência de queda das pesquisas, é justamente por aí que Lula deve começar. Aliás, já deveria ter começado há muito tempo.


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