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São Paulo, domingo, 16 de março de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Os sem-projeto

SÃO PAULO - Minha sensação em relação ao PT era a de que, se a gente passasse pela calçada (nem precisaria entrar) de qualquer diretório municipal, estadual ou nacional do partido, sairia com um pilha de folhetos, documentos, projetos e propostas contendo análises e soluções para todos os problemas do planeta.
Tenho muitos guardados até hoje, pela simples e boa razão de que a maneira mais fácil de um colunista ganhar a vida é reproduzir o que dizem ou escrevem os candidatos e comparar com aquilo que fazem ou dizem depois de eleitos.
Por isso, achava que o partido, logo no dia 2 de janeiro, passada a festa, dispararia projetos para tudo quanto é lado, apontaria soluções para todos os problemas que ele próprio cansara de analisar desde que nasceu, há 23 anos -e que, a bem da verdade, só fizeram agravar-se desde então.
O máximo que poderia acontecer seria receber críticas por estar tentando fazer as coisas erradas ou por contrariar interesses poderosos.
É bem provável que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva me inclua, se lesse o que sai neste espaço, entre os "apressadinhos" que criticou outro dia, em mais um dia em que pediu calma e paciência.
Agora pode incluir na lista o seu próprio berço, o movimento sindical. Afinal, a CUT, a central sindical ligada ao PT, diz que "até agora, podemos constatar a inexistência de um projeto claro para estimular o debate público sobre as diferentes reformas tidas como prioritárias".
Afirma ainda que esse vazio causa "tensão e descompasso". Nos e-mails que recebo de petistas da base ou de gente que, sem ser petista, desta vez votou em Lula com grande esperança, há mais do que isso. Há angústia, mal-estar, gosto amargo na boca.
É claro que é cedo para julgar o governo pelas suas ações. Mas não é cedo para julgar o partido pela "inexistência de um projeto claro". Afinal, já são 23 anos de vida, o suficiente para saber o que queria fazer quando crescesse. Cresceu. Sabe?


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