São Paulo, segunda-feira, 16 de março de 2009

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RUY CASTRO

Bólido no calçadão

RIO DE JANEIRO - Dia sim, dia não, caminho no calçadão aqui defronte. Ordens médicas. Contando ida e volta, da estátua do Zózimo, no final do Leblon, ao Arpoador, são oito quilômetros de marcha batida. Dá para fazer em uma hora, desde que, seguindo os cânones estabelecidos por Millôr e outros pioneiros, não se pare para falar com ninguém, nem com a Luiza Brunet, se ela estiver a fim de um papo.
Marcha batida não significa correr, como fazem alguns que passam bufando por mim na ciclovia, apostando uma corrida imaginária contra a própria barriga -a qual, por mais que eles se esfalfem, sempre chegará primeiro. Caminhar é caminhar e vice-versa, o que equivale a mais que a velocidade passeio, mas não tanto que os bofes nos saiam pela boca.
Nesse percurso Leblon-Ipanema-Leblon, metade das pessoas com quem se cruza são rapazes e moças de pele dourada, carnes indecentemente firmes e que há anos não dão um espirro. É natural que, com esse excesso de saúde em estoque, eles nos deixem longe sem ter de apressar o passo. Faz parte do jogo -eu mesmo vivo ultrapassando engessados, artríticos e macróbios em cadeiras de rodas.
Mas o humilhante é quando sinto que, por trás de mim, à esquerda, aproxima-se e vai passar celeremente... uma babá uniformizada, empurrando um carrinho de bebê. Como ela consegue? O curioso é que, depois que a babá já me superou por vários corpos e carrinhos, constato que fez isso com a maior naturalidade, apenas caminhando. Serei eu que, na ilusão de ser um bólido, estarei empatando o trânsito no calçadão?
Tive certeza disso quando, há pouco, comecei a ser ultrapassado por babás empurrando carrinhos duplos, transportando gêmeos. A partir daí, é todo dia. E o que tem de gêmeos no Leblon não é normal!


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