São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2004

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SINAL DE ALERTA

Bastou um banco norte-americano mostrar leve desconfiança em relação à economia brasileira para que as finanças nacionais reagissem como se estivessem sob tormenta. Em questão de horas, o risco de investir -e de apostar na solvência do Brasil- aumentou 10%.
O banco em questão, o JP Morgan, recomendou a seus clientes que se livrassem de uma parte dos papéis da dívida pública do país. Quis dizer com isso que o Brasil ainda inspira cuidados. A dívida é demasiadamente alta e a economia não dá sinais de que crescerá o bastante para torná-la mais solvente e atrativa aos olhos dos investidores internacionais.
É certo que a crise de confiança que cercou a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva exigia medidas duras para ser debelada. A partir de maio de 2003, porém, o rigor da política monetária se mostrou excessivo. Naquele mês, percebeu-se o tamanho da recessão, que já demandava o alívio do arrocho monetário.
Mas a equipe econômica desde então apenas demonstra seu apego a fórmulas de manual. "A boa teoria", como disse o presidente do Banco Central. Essas fórmulas não dão conta do particular contexto econômico e financeiro do país, para não falar do social e político. Como se estivessem em aulas de macroeconomia para calouros, os economistas de Lula repetem platitudes como "a moeda é neutra, o BC não promove crescimento econômico". Quem disse o contrário? Está claríssimo que não haverá milagre ou espetáculo do crescimento sem leis melhores, mais produtividade, mais comércio, menos impostos, mais investimento.
O que se pede é apenas bom senso. Bom senso para não destruir com taxas de juros tão elevadas o esforço terrível do ajuste fiscal. E para não aprisionar o país a metas de inflação demasiadamente ambiciosas para os prazos estipulados para seu cumprimento. Bom senso, sobretudo, para não solapar de antemão a possibilidade de o país voltar a crescer. É preciso que a autoridade monetária abandone sua rotina de excessiva cautela e crie, com reduções mais decididas dos juros, melhores condições para o país avançar.


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