São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2004

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MEDO E CETICISMO

Diversos fatores têm conspirado para o dramático quadro da segurança pública no Brasil, do qual o Rio de Janeiro é uma das faces mais visíveis e chocantes. O acelerado processo de urbanização por que passou o Brasil não mais tem encontrado na expansão da economia uma válvula de escape. Num período alongado de baixo crescimento econômico, as periferias e favelas aumentam sem que seus habitantes contem com mecanismos básicos de inclusão social.
O mercado de trabalho é frágil, o sistema educacional é precário e os programas habitacionais praticamente inexistem. A sobrevivência vai se tornando ainda mais penosa e a juventude perde suas perspectivas. Num contexto marcado por graves desigualdades, a miséria e a riqueza convivem de maneira cada vez mais tensa. Deterioram-se, assim, as condições da sociabilidade. A violência infiltra-se no cotidiano e a desconfiança e o medo se apoderam da vida nas grandes cidades.
Nesse território devastado, o narcotráfico aloja-se e impõe sua lei. Jovens de baixa renda são seduzidos e recrutados pelo tráfico, que corrompe parcelas da polícia e avança sobre as instituições. É evidente que esses bandos especializados em aterrorizar os cidadãos fazem parte de algo maior -o crime organizado em plano nacional e internacional.
Diante de uma situação como essa, era de esperar que o poder público formulasse planos de ação de curto, médio e longo prazos, contemplando os diversos aspectos do problema. Não é o que se vê. A cada momento de pânico, o que vem à cena são o oportunismo e a improvisação. São as promessas de sempre, as disputas políticas e os apelos salvacionistas por intervenções federais.
Passada a crise, acaba-se voltando à rotina até que um novo surto de violência ecloda e a indignação mais uma vez tenha lugar. Eis uma dinâmica extremamente perigosa, que apenas fomenta o ceticismo e a descrença da sociedade em relação às instituições e aos homens públicos.


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