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MEDO E CETICISMO
Diversos fatores têm conspirado para o dramático quadro da
segurança pública no Brasil, do qual
o Rio de Janeiro é uma das faces mais
visíveis e chocantes. O acelerado processo de urbanização por que passou
o Brasil não mais tem encontrado na
expansão da economia uma válvula
de escape. Num período alongado de
baixo crescimento econômico, as periferias e favelas aumentam sem que
seus habitantes contem com mecanismos básicos de inclusão social.
O mercado de trabalho é frágil, o
sistema educacional é precário e os
programas habitacionais praticamente inexistem. A sobrevivência vai
se tornando ainda mais penosa e a
juventude perde suas perspectivas.
Num contexto marcado por graves
desigualdades, a miséria e a riqueza
convivem de maneira cada vez mais
tensa. Deterioram-se, assim, as condições da sociabilidade. A violência
infiltra-se no cotidiano e a desconfiança e o medo se apoderam da vida
nas grandes cidades.
Nesse território devastado, o narcotráfico aloja-se e impõe sua lei. Jovens de baixa renda são seduzidos e
recrutados pelo tráfico, que corrompe parcelas da polícia e avança sobre
as instituições. É evidente que esses
bandos especializados em aterrorizar os cidadãos fazem parte de algo
maior -o crime organizado em plano nacional e internacional.
Diante de uma situação como essa,
era de esperar que o poder público
formulasse planos de ação de curto,
médio e longo prazos, contemplando os diversos aspectos do problema. Não é o que se vê. A cada momento de pânico, o que vem à cena
são o oportunismo e a improvisação.
São as promessas de sempre, as disputas políticas e os apelos salvacionistas por intervenções federais.
Passada a crise, acaba-se voltando à
rotina até que um novo surto de violência ecloda e a indignação mais
uma vez tenha lugar. Eis uma dinâmica extremamente perigosa, que
apenas fomenta o ceticismo e a descrença da sociedade em relação às
instituições e aos homens públicos.
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