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ELIANE CANTANHÊDE
Usucapião
BRASÍLIA - Em vez de aproveitar o esfriamento do caso Waldomiro para
acertar o passo, o governo Lula continua tropeçando. Às vezes, inexplicavelmente e em pequenas coisas.
Afinal, que sentido há em dona
Marisa Letícia instalar a estrela vermelha do PT nos jardins (tombados,
frise-se) do Palácio da Alvorada e da
Granja do Torto?
E qual o sentido de a segurança da
Presidência dispensar o coro de 80
meninas da Febem que cantariam
ontem para Lula em São Paulo?
A estrela consolida a sensação de
que a turma está adorando o poder e
se sente "em casa". Lula usa metáforas nas cerimônias oficiais como se
estivesse na varanda com amigos;
Marisa Letícia diz que vai doar ao
Estado jóias recebidas como primeira-dama e, até agora, nada; Dirceu
libera a chave da casa para o filho entrar e sair na hora em que bem entender; o PT mudou móveis, utensílios e
velhos funcionários da administração por gente sua como se viesse para
ficar para sempre. "Daqui não saio,
daqui ninguém me tira."
Peraí. Símbolos do poder são permanentes, e governos são transitórios. Não há usucapião. O Alvorada
não virou propriedade do PT porque
o petista Lula está lá por quatro ou
mesmo que sejam oito anos. É um
símbolo da Presidência da República.
Quanto às meninas da Febem, é de
chorar. Lula, o velho líder sindicalista, o torneiro mecânico, o retirante
que hoje mora e despacha em palácios, confraterniza com banqueiros,
empresários, governadores -a elite.
E é impedido de receber um coral de
menores em fase de reabilitação?
Se tudo estivesse maravilhoso na
economia, nos empregos, nos salários, na política congressual e nas políticas sociais, essas coisas passariam
batido, quase registros sobre "falta de
experiência", "erros de assessoria".
Do jeito que a coisa vai, só engrossam
o caldo da desesperança. E desembocam na perda crescente de popularidade do presidente.
Alguém precisa dar ordem à casa. E
não é metendo estrela vermelha no
Palácio da Alvorada.
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