São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2004

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CLAUDIA ANTUNES

O longo prazo acabou

RIO DE JANEIRO - Os jornais do Rio estão repletos de declarações de urbanistas, de sociólogos e de analistas de especialidades diversas sugerindo medidas para combater a violência relacionada ao narcotráfico, que se encastelou em morros da cidade e vira a emergência nacional da hora quando transborda para o asfalto, como aconteceu agora na Rocinha.
Deter o tráfico de armas, expurgar e educar a polícia violenta e corrupta, investir em formação e meios técnicos para melhorar o trabalho investigativo, reter os jovens na escola, promover campanhas contra o uso de drogas, construir novos presídios para isolar os chefes do tráfico. São em sua maioria idéias tão recorrentes quanto sensatas, às quais ninguém bem-intencionado poderia se opor.
Mas, como reconhecem seus defensores, são propostas que, mesmo que seu financiamento fosse logo viabilizado, teriam efeito a médio e a longo prazo. E a sensação no Brasil é que o longo prazo acabou. Resolver aqui qualquer problema social visto de forma isolada -da violência urbana aos conflitos no campo- é como soldar os vagões de um trem em movimento, levado célere para o abismo por todas as demais variáveis.
Nossos governos gastam e são instados a gastar cada vez mais para combater sintomas. Foram condenados a atuar como bombeiros em atividade frenética e variada porque eles e os que detêm poder na sociedade são incapazes de atacar as causas de sua desagregação -a renda ultraconcentrada, o mercado de trabalho precário, a falta de emprego e de salário que cria o exército de reserva, seja para os acampamentos do MST ou para a marginalidade.
O absurdo da situação brasileira é tão grande que, enquanto é pressionado pelos Estados a liberar mais verbas para a segurança pública, o Planalto se diz obrigado a escolher entre dar um aumento um pouco maior para o salário mínimo ou preservar investimentos, também mínimos. E, antes que o incêndio no Rio possa ser apagado, outro surge no horizonte -ontem, as más notícias já vieram dos "mercados".


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