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RUY CASTRO
Mamãe, eu quero
RIO DE JANEIRO - Num ano farto de efemérides, o pianista, compositor e maestro Vicente Paiva,
que completaria cem anos nesta
sexta-feira, não terá shows em sua
memória. Ao procurar ministérios
e empresas que se dizem ligados à
cultura, seus herdeiros deram com
o nariz na porta.
Vicente Paiva é autor, com o comediante Jararaca, de "Mamãe, Eu
Quero", sucesso do Carnaval de
1937 e de todos os Carnavais seguintes. Em 1939, Carmen Miranda
levou "Mamãe, Eu Quero" para os
EUA, e o resto é história. Se "Aquarela do Brasil" e "Garota de Ipanema" são duas das três canções brasileiras mais conhecidas no mundo,
a terceira é "Mamãe, Eu Quero".
Em 1940, Carmen veio ao Brasil e
foi hostilizada no Cassino da Urca
por uma claque do Estado Novo. Vicente, diretor musical do cassino,
compôs quatro robustos sambas
com Luiz Peixoto para que, meses
depois, ela voltasse à Urca e se consagrasse junto ao seu verdadeiro
público: "Diz que Tem", "Bruxinha
de Pano", "Voltei pro Morro" e
"Disseram que Voltei Americanizada". Ele era um craque.
Em 1946, quando o presidente
Dutra proibiu o jogo e fechou os
cassinos, Vicente foi realista: trocou os smokings por um terno puído, fez de um de seus carros táxi e
foi trabalhar na praça. Mas, pouco
depois, estava por cima de novo,
musicando o teatro de revista de
Walter Pinto. Em 1950, deu a Dalva
de Oliveira (e, no futuro, a Gal Costa) um de seus maiores sucessos:
"Olhos Verdes", aquele que fala nos
"saborosos cambucás".
Apenas pelo que "Mamãe, Eu
Quero" já rendeu e ainda rende, os
herdeiros de Vicente, que morreu
em 1964, devem viver à larga, não?
Não. Estamos no Brasil. Eles têm
não só de trabalhar para comer como não conseguem com que o país
faça justiça a um homem que, todos
os anos, enche fevereiro de alegria.
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