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CARLOS HEITOR CONY
Favelas e guetos
RIO DE JANEIRO - Os cariocas se
dividem entre os favoráveis à remoção das favelas e aqueles que são
contrários à medida, que periodicamente é lembrada como solução radical para o problema -socialmente, o maior do Rio de Janeiro e, em
escala menor, de outras grandes cidades brasileiras.
Na passagem dos séculos 19 e 20,
o Rio tinha cortiços, um deles imortalizado por Aluísio Azevedo. E praticamente só possuía uma favela, no
morro homônimo, que deu nome às
demais. Era um agrupamento de
barracos rodeado por uma cidade.
Hoje, a cidade é que está rodeada
por favelas, que aparecem em todas
as partes e se expandem em progressão geométrica.
Já foram feitas tentativas de remoção operadas pelo Estado, criaram-se bairros que abrigariam a população deslocada, caso da Cidade
de Deus e da Vila Kennedy. Mas, para comportar os moradores da Rocinha, por exemplo, com 500 mil favelados, seria necessário construir
uma cidade do tamanho de Brasília
em seu início, que, segundo Lúcio
Costa, teria exatamente este limite
de ocupação: 500 mil habitantes.
Outras tentativas de minimizar o
problema não resolveram a questão. Pintar os barracos com cores
berrantes ou criar elementos que
lembrassem a obra de Mondrian
também não deram certo -acentuaram a pobreza, ampliada pelo
ridículo.
Para impedir a expansão das favelas, alguns técnicos falam na
construção de muros, que, colocados em linha reta, formariam uma
nova muralha tão grande ou maior
do que a da China. Seriam guetos
medievais, protegidos por uma estrutura policial que até hoje não
deu para garantir a segurança
da cidade.
Os entendidos lembram que os
condomínios fechados são guetos
às avessas para proteção dos ricos.
E aí?
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