São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2010

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Editoriais

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Jogo travado

Complexidade e incoerência das alianças regionais revelam a fraqueza do debate na disputa presidencial

PALANQUES de sobra, palanques em falta. O problema das alianças regionais ocupa, com sinais inversos, os estrategistas de José Serra e Dilma Rousseff nas respectivas candidaturas à sucessão presidencial.
Montar o mecanismo das chapas e dos acordos em cada Estado brasileiro, e suas relações com o quadro nacional, constitui sem dúvida um exercício de engenharia política avançada, capaz de desafiar os talentos de um especialista em teoria dos jogos e lógica matemática.
Mas quando há necessidade de muita sofisticação lógica na vida política, o mais provável é que não exista lógica nenhuma. Tome-se o caso de Minas Gerais. Lá, o peemedebista Hélio Costa lidera a corrida para o governo do Estado, oferecendo sustentação às incursões eleitorais de Dilma Rousseff.
A candidata petista precisa, todavia, lidar com as resistências de seu próprio partido, que conta com dois nomes expressivos para o governo -os de Patrus Ananias e Fernando Pimentel.
Especula-se, enquanto isso, sobre a possibilidade de parte do eleitorado mineiro combinar o voto na governista Dilma, para presidente, com a opção pelo tucano Antonio Anastasia, na sucessão estadual.
O fenômeno "Dilmasia" refletiria os índices de popularidade alcançados tanto pelo presidente Lula quanto pelo governador Aécio Neves naquele Estado. Adversários no plano federal, PT e PSDB superpõem-se, desse modo, nas preferências do eleitorado mineiro.
Já em São Paulo, boa parte do PMDB é quercista, e, sendo quercista, apoia seu líder como candidato ao Senado na chapa tucana -mas é preciso lembrar que Michel Temer, de São Paulo e do PMDB, marca seu lugar como pretendente a vice da petista Dilma Rousseff.
O espetáculo não se explica apenas pela proverbial disposição do PMDB a todo tipo de alianças. Havendo, ademais, oito partidos médios e grandes na composição da base parlamentar lulista, não há como supor que coalizão tão ampla sobrevivesse incólume à força centrífuga das realidades estaduais.
A pergunta que se coloca, todavia, é de que realidades estaduais afinal se trata.
Do ponto de vista de um candidato ou candidata "com projeto nacional", como se gosta de dizer, parece estranho que na prática se tomem como idênticas as propostas de um Hélio Costa e de um Patrus Ananias, por exemplo, para o governo de Minas.
A situação só se explica, na verdade, pelo fato de não existir nenhum projeto real em jogo nessa dança de apoios e divergências.
Alternativas nítidas de visão e de estilo poderiam, teoricamente, organizar em torno de um só eixo a disputa nos Estados e no plano federal, mesmo que acomodando partidos distintos. Não apenas se repete o fenômeno da inautenticidade partidária no Brasil. Ocorre que as próprias candidaturas nacionais não se mostraram, até agora, capazes de superar sua vaga indistinção.


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