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Editoriais
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Jogo travado
Complexidade e incoerência das alianças regionais revelam a fraqueza do debate na disputa presidencial
PALANQUES de sobra, palanques em falta. O problema das alianças regionais ocupa, com sinais inversos, os estrategistas de José
Serra e Dilma Rousseff nas respectivas candidaturas à sucessão
presidencial.
Montar o mecanismo das chapas e dos acordos em cada Estado brasileiro, e suas relações com
o quadro nacional, constitui sem
dúvida um exercício de engenharia política avançada, capaz de
desafiar os talentos de um especialista em teoria dos jogos e lógica matemática.
Mas quando há necessidade de
muita sofisticação lógica na vida
política, o mais provável é que
não exista lógica nenhuma. Tome-se o caso de Minas Gerais.
Lá, o peemedebista Hélio Costa
lidera a corrida para o governo
do Estado, oferecendo sustentação às incursões eleitorais de
Dilma Rousseff.
A candidata petista precisa, todavia, lidar com as resistências
de seu próprio partido, que conta
com dois nomes expressivos para o governo -os de Patrus Ananias e Fernando Pimentel.
Especula-se, enquanto isso, sobre a possibilidade de parte do
eleitorado mineiro combinar o
voto na governista Dilma, para
presidente, com a opção pelo tucano Antonio Anastasia, na sucessão estadual.
O fenômeno "Dilmasia" refletiria os índices de popularidade
alcançados tanto pelo presidente
Lula quanto pelo governador Aécio Neves naquele Estado. Adversários no plano federal, PT e
PSDB superpõem-se, desse modo, nas preferências do eleitorado mineiro.
Já em São Paulo, boa parte do
PMDB é quercista, e, sendo
quercista, apoia seu líder como
candidato ao Senado na chapa
tucana -mas é preciso lembrar
que Michel Temer, de São Paulo
e do PMDB, marca seu lugar como pretendente a vice da petista
Dilma Rousseff.
O espetáculo não se explica
apenas pela proverbial disposição do PMDB a todo tipo de
alianças. Havendo, ademais, oito
partidos médios e grandes na
composição da base parlamentar
lulista, não há como supor que
coalizão tão ampla sobrevivesse
incólume à força centrífuga das
realidades estaduais.
A pergunta que se coloca, todavia, é de que realidades estaduais
afinal se trata.
Do ponto de vista de um candidato ou candidata "com projeto
nacional", como se gosta de dizer, parece estranho que na prática se tomem como idênticas as
propostas de um Hélio Costa e
de um Patrus Ananias, por exemplo, para o governo de Minas.
A situação só se explica, na verdade, pelo fato de não existir nenhum projeto real em jogo nessa
dança de apoios e divergências.
Alternativas nítidas de visão e
de estilo poderiam, teoricamente, organizar em torno de um só
eixo a disputa nos Estados e no
plano federal, mesmo que acomodando partidos distintos. Não
apenas se repete o fenômeno da
inautenticidade partidária no
Brasil. Ocorre que as próprias
candidaturas nacionais não se
mostraram, até agora, capazes de
superar sua vaga indistinção.
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