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RUY CASTRO
Caça aos votos
RIO DE JANEIRO - Virgem em
pelejas eleitorais -nunca disputou
sequer o cargo de monitora da sua
turma de bandeirantes- e já candidata à Presidência, Dilma Rousseff
precisará se adaptar depressa aos
rituais de campanha, os quais costumam exigir muita paciência,
grande resistência física e mental e
nervos e estômago de aço.
Em suas excursões à caça de votos nos mais remotos burgos, da
Cisplatina ao Guaporé, Dilma terá
de enfrentar a culinária local com a
mesma bravura com que dispara
contra seus desafetos políticos. Isso
implicará almoçar cerca de cinco
vezes por dia, em todas limpando o
prato e estalando a língua, para não
fazer uma desfeita aos caciques políticos desses arraiais.
Não são simples almoços, mas
banquetes, e nenhuma das refeições é exatamente light. Nas profundas do Brasil, as pessoas ainda
não foram picadas pela "mauvaise
conscience" alimentar e se atiram
com gosto ao sal, às banhas e às entranhas -em certas regiões, buchada de bode é comida para convalescentes. Donde Dilma já pode ir preparando o antiácido, a balança e a
contagem do colesterol.
Dilma terá de se habituar a apertar as mãos encharcadas do povo
brasileiro (sem enxugar as suas
nem mesmo em discretos lencinhos) e a beijar bebês de nariz escorrendo (beijar o bebê de Madonna foi fácil) e sujeitar-se a repentinos esguichos (nem todos os bebês
brasileiros vêm equipados com fraldas). E submeter-se a abraços um
pouco mais sôfregos por parte de
cabos eleitorais dispostos a posar
de íntimos para seus eleitores.
Mais que tudo, Dilma terá de demonstrar sincero interesse pelo
que os próceres de cada curral lhe
disserem -cada um tem seus problemas, e cada curral, suas exigências. Enfim, terá de aprender uma
ciência e arte que ainda não domina: a de ouvir em vez de só falar.
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