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JOSÉ SARNEY
Além de Nostradamus
NADA AMEAÇA mais o futuro
da humanidade do que as
armas nucleares. Tenho sido sempre um militante desta causa. Não somente com palavras, mas
com ações e decisões. Eu e Alfonsín
retiramos a América Latina dessa
corrida alucinada quando encerramos a questão nuclear Brasil-Argentina. Foi de minha iniciativa,
enquanto presidente, a resolução
da ONU que transformou o Atlântico sul em zona de paz, livre do tráfego de armas nucleares.
O Irã, ao recusar sistematicamente o controle da Agência Internacional de Energia Atômica, confessa que seus fins pacíficos não
são tão pacíficos. Ele está localizado numa área de extrema sensibilidade, e suas posições chegam ao fanatismo. Sua busca de enriquecimento de urânio capaz de produzir
artefatos nucleares está acoplada a
um programa de mísseis de longo e
médio alcances, o que torna bastante suspeito o radicalismo de sua
resistência às inspeções.
A conduta da comunidade internacional sobre o controle de armas
atômicas tem que ser dura. Hoje já
temos um arsenal capaz de destruir a Terra e todo ser vivo nela
existente. Não precisamos esperar
o choque com um meteoro gigante.
A loucura do próprio homem pode
-e será inevitável se não tratarmos
este como o maior de todos os problemas- nos levar ao juízo final.
É de louvar o messianismo de
Obama ao colocar como prioridade
das prioridades de sua Presidência
evitar que o mundo caminhe para o
descontrole nuclear. Já fomos longe demais. O desmantelamento da
União Soviética e o posterior período de anarquia que viveram a
Rússia e os demais países que a
compunham levaram a escapar para o contrabando internacional
urânio enriquecido capaz de construir bombas.
Contando só os países que possuem armas nucleares, calcula-se
que detenham 1.600 toneladas de
urânio enriquecido, além de 500
toneladas de plutônio, outro produto capaz de servir à proliferação
de artefatos nucleares.
A Agência Internacional de
Energia Atômica, segundo jornais
europeus, já flagrou 15 casos de
furto de plutônio e urânio enriquecido. Isso significa que os controles, com todos os rigores que têm,
foram incapazes de evitar esses
desvios. A possibilidade de esses
materiais caírem em mãos de terroristas é cada vez maior.
Houve um tempo, quando estes
números eram menores e o fim do
mundo não estava na cogitação da
humanidade, que admitimos não
assinar o TNP (Tratado de Não
Proliferação Nuclear). Hoje não
cabe na cabeça de ninguém essa hipótese. Nesse quadro, Irã e Coreia
do Norte são perigos iminentes.
Essas armas, em mãos de fanáticos, são a tragédia anunciada, além
de tudo o que viu Nostradamus.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras
nesta coluna.
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