São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2010

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JOSÉ SARNEY

Além de Nostradamus

NADA AMEAÇA mais o futuro da humanidade do que as armas nucleares. Tenho sido sempre um militante desta causa. Não somente com palavras, mas com ações e decisões. Eu e Alfonsín retiramos a América Latina dessa corrida alucinada quando encerramos a questão nuclear Brasil-Argentina. Foi de minha iniciativa, enquanto presidente, a resolução da ONU que transformou o Atlântico sul em zona de paz, livre do tráfego de armas nucleares.
O Irã, ao recusar sistematicamente o controle da Agência Internacional de Energia Atômica, confessa que seus fins pacíficos não são tão pacíficos. Ele está localizado numa área de extrema sensibilidade, e suas posições chegam ao fanatismo. Sua busca de enriquecimento de urânio capaz de produzir artefatos nucleares está acoplada a um programa de mísseis de longo e médio alcances, o que torna bastante suspeito o radicalismo de sua resistência às inspeções.
A conduta da comunidade internacional sobre o controle de armas atômicas tem que ser dura. Hoje já temos um arsenal capaz de destruir a Terra e todo ser vivo nela existente. Não precisamos esperar o choque com um meteoro gigante. A loucura do próprio homem pode -e será inevitável se não tratarmos este como o maior de todos os problemas- nos levar ao juízo final.
É de louvar o messianismo de Obama ao colocar como prioridade das prioridades de sua Presidência evitar que o mundo caminhe para o descontrole nuclear. Já fomos longe demais. O desmantelamento da União Soviética e o posterior período de anarquia que viveram a Rússia e os demais países que a compunham levaram a escapar para o contrabando internacional urânio enriquecido capaz de construir bombas.
Contando só os países que possuem armas nucleares, calcula-se que detenham 1.600 toneladas de urânio enriquecido, além de 500 toneladas de plutônio, outro produto capaz de servir à proliferação de artefatos nucleares.
A Agência Internacional de Energia Atômica, segundo jornais europeus, já flagrou 15 casos de furto de plutônio e urânio enriquecido. Isso significa que os controles, com todos os rigores que têm, foram incapazes de evitar esses desvios. A possibilidade de esses materiais caírem em mãos de terroristas é cada vez maior.
Houve um tempo, quando estes números eram menores e o fim do mundo não estava na cogitação da humanidade, que admitimos não assinar o TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear). Hoje não cabe na cabeça de ninguém essa hipótese. Nesse quadro, Irã e Coreia do Norte são perigos iminentes.
Essas armas, em mãos de fanáticos, são a tragédia anunciada, além de tudo o que viu Nostradamus.
jose-sarney@uol.com.br


JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.


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