São Paulo, quarta-feira, 16 de maio de 2007

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ANTONIO DELFIM NETTO

Paz interna

A POLÍTICA do governo é condicionada às instituições vigentes (definidas na Constituição) e consiste numa combinação do conhecimento sedimentado ao longo dos anos com a "arte" da dosagem e da comunicação. O seu agente ativo (a autoridade) tem que convencer o agente passivo (os trabalhadores-consumidores, os industriais, os banqueiros etc.) de que ela é eficaz para o atendimento dos objetivos previamente acordados. Em geral os objetivos dos governos são múltiplos: I) Do ponto de vista social: 1º) garantir a paz interna pelo monopólio da força acompanhado de razoável prestação de justiça e 2º) universalizar a educação e a saúde como instrumentos de igualização de oportunidade para todos os cidadãos se quiser dar moralidade à "economia de mercado"; II) Do ponto de vista econômico: 1º) estimular o mais rápido crescimento sustentável possível para diminuir o mais grave dos desperdícios: o desemprego; 2º) garantir a estabilidade dos preços, fundamental para diminuir a angústia do consumidor e dar um horizonte mais longo para o investidor e 3º) promover uma convergência nas desigualdades regionais, produto dos acidentes históricos e geográficos.
Os objetivos são muitos, e os recursos disponíveis para realizá-los são escassos, o que exige o estabelecimento de prioridades. Estas, por sua vez, têm que ser aceitas pela sociedade, porque o agente "passivo" é reativo: ele aceita e coopera ou rejeita e resiste. Os graves problemas da política econômica referem-se ao ilusionismo e à aritmética. Uma boa parte da população ainda crê que o governo é fonte original de recursos. Esquece que o governo é, na melhor e na mais honesta hipótese, mero instrumento de transferência de recursos: tira de "alguém" para entregar a outro "alguém" e, na transferência, consome parte deles!
Tão grave quanto essa ilusão é a crença de que a soma das partes pode ser maior do que o todo.
Na atualidade brasileira, o que há de importante é o discurso do governo, que acomodou a ilusão e a aritmética. Radicalizou a política econômica canônica hoje utilizada na maioria esmagadora dos países e convenceu a sociedade da importância da redução das desigualdades. Hoje as políticas sociais estão muito mais bem administradas, particularmente o Bolsa-Família e o Pronaf.
No que respeita à "paz interna", as grandes metrópoles assistem, aterrorizadas, a uma disputa pelo monopólio da força. Este é, certamente, o "problema dos problemas" sociais e econômicos nacionais.


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ANTONIO DELFIM NETTO
escreve às quartas-feiras nesta coluna.


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