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NELSON MOTTA
Crônicas contemporâneas
RIO DE JANEIRO - O drama dos
cronistas sempre foi o assunto. Mas
hoje, embora eles abundem, parece
que todos embarcam sempre nas
mesmas canoas. Começa a ficar
bem chato e previsível. Tudo sempre parece girar em torno do governo, do oficial, do institucional, para
o bem e para o mal, como se o mundo em volta não existisse.
Os grandes cronistas, como Rubem Braga e Fernando Sabino,
também tinham seus problemas
com os assuntos, e encontravam em
seu talento e sua sabedoria as formas de entreter e divertir o leitor.
Mas, se escrevessem hoje, coitados,
como todos nós nessa árdua atividade, seriam quase obrigados a comentar os escândalos políticos, as
falcatruas, mentiras e sem-vergonhices que explodem todos os dias
nos jornais, rádios, TVs e blogs.
Não que exista mais corrupção
hoje do que nos tempos dos grandes
cronistas, mas a eficiência da PF e a
do Ministério Público na democracia a trouxeram à luz e levaram-na
ao centro das atenções.
Será que Rubem Braga, autor de
célebre crônica apocalíptica sobre a
devassidão de Copacabana na virada dos anos 60, não escreveria nada
sobre mensaleiros, sanguessugas e
aloprados? Ou sobre o novo mundo
do clepto-sindicalismo?
Mas também seria muito divertido ler crônicas de Nelson Rodrigues
sobre o MST, os quilombolas, as elites sindicais, os ecochatos, a "bolsa-ditadura", as cotas raciais, o politicamente correto. Quantas gargalhadas perdemos, sem a veia tragicômica de Nelson, durante os dias
inesquecíveis do caso Renan
Calheiros.
Hoje há cronistas por toda a parte, cada um pode ter o seu próprio
blog. Mas os melhores e os piores se
aproximam quando todos escrevemos variações sobre o mesmo tema:
escândalos e baixarias no país da
piada pronta.
Está difícil mudar de assunto.
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