São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 2008

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NELSON MOTTA

Crônicas contemporâneas

RIO DE JANEIRO - O drama dos cronistas sempre foi o assunto. Mas hoje, embora eles abundem, parece que todos embarcam sempre nas mesmas canoas. Começa a ficar bem chato e previsível. Tudo sempre parece girar em torno do governo, do oficial, do institucional, para o bem e para o mal, como se o mundo em volta não existisse.
Os grandes cronistas, como Rubem Braga e Fernando Sabino, também tinham seus problemas com os assuntos, e encontravam em seu talento e sua sabedoria as formas de entreter e divertir o leitor. Mas, se escrevessem hoje, coitados, como todos nós nessa árdua atividade, seriam quase obrigados a comentar os escândalos políticos, as falcatruas, mentiras e sem-vergonhices que explodem todos os dias nos jornais, rádios, TVs e blogs.
Não que exista mais corrupção hoje do que nos tempos dos grandes cronistas, mas a eficiência da PF e a do Ministério Público na democracia a trouxeram à luz e levaram-na ao centro das atenções.
Será que Rubem Braga, autor de célebre crônica apocalíptica sobre a devassidão de Copacabana na virada dos anos 60, não escreveria nada sobre mensaleiros, sanguessugas e aloprados? Ou sobre o novo mundo do clepto-sindicalismo?
Mas também seria muito divertido ler crônicas de Nelson Rodrigues sobre o MST, os quilombolas, as elites sindicais, os ecochatos, a "bolsa-ditadura", as cotas raciais, o politicamente correto. Quantas gargalhadas perdemos, sem a veia tragicômica de Nelson, durante os dias inesquecíveis do caso Renan Calheiros.
Hoje há cronistas por toda a parte, cada um pode ter o seu próprio blog. Mas os melhores e os piores se aproximam quando todos escrevemos variações sobre o mesmo tema: escândalos e baixarias no país da piada pronta.
Está difícil mudar de assunto.


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