|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RUY CASTRO
Prisão perpétua
RIO DE JANEIRO - Na madrugada do dia 7, em Curitiba, o deputado
estadual Francisco Carli Filho, 26,
literalmente decolou com seu carro, um Passat preto, e passou como
uma navalha sobre um Honda Fit
prata, matando os dois ocupantes
deste, de 20 e 26 anos. O choque atirou os carros na outra pista. Um dos
rapazes foi decapitado.
Uma testemunha declarou que o
Passat vinha em alta velocidade, a
ponto de levantar voo ao atravessar
um desnível. Os bombeiros encontraram o velocímetro congelado em
190 km/h. Nove deles disseram que,
ao ser socorrido, o deputado estava
"visivelmente alcoolizado". Apesar
disso, a polícia de Curitiba levou
uma semana para pedir amostras
de sangue do deputado.
O deputado tinha 30 multas de
trânsito, das quais 23 por excesso
de velocidade, e 130 pontos na carteira -o máximo permitido é 20
pontos por ano. Estava com a habilitação suspensa desde julho de
2007, mas continuava dirigindo.
Nos primeiros dias, o noticiário
privilegiou a informação de que o
deputado saíra gravemente ferido
do acidente e só se referia de passagem à morte dos dois rapazes. Seus
assessores levantaram "suspeitas"
de que tivesse havido um pega entre
os carros ou que a culpa pelo acidente pudesse ser do Honda -tramoia desmentida pela testemunha.
O deputado pertence a uma influente família de políticos paranaenses, com poderes sobre alguns
meios de comunicação.
Nos EUA, a punição para esse tipo de acidente, mesmo sem tantos
agravantes, pode levar à prisão perpétua. No Brasil, o deputado, se se
recuperar do choque, logo estará de
novo ao volante e à sua cadeira na
Assembleia local. Condenados à
prisão perpétua estão os pais dos
rapazes mortos -a mãe de um deles, ao ser chamada após a tragédia,
recebeu a cabeça de seu filho para
reconhecer.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Senado à deriva Próximo Texto: Cesar Maia: Floriano Peixoto e SP Índice
|