São Paulo, sexta-feira, 16 de junho de 2000


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ESTRATÉGIA LIMITADA

Na esteira da onda de indignação que tomou conta do país com o trágico desfecho do sequestro de um ônibus no Rio, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou o projeto de lei que limita a venda de armas de fogo no Brasil. O diploma legal ainda tem de passar pela Comissão de Relações Exteriores para ir a plenário e depois seguir para a Câmara.
Aqui, o saudável ceticismo recomenda cautela. Dificilmente será uma lei que resolverá a terrível questão da violência no Brasil. As armas de fogo ceifam, anualmente, 38 mil vidas, sem mencionar os milhares que carregam por toda a existência as sequelas de um tiro. Se a proposta de lei não acerta o objetivo principal, ao menos atinge as adjacências do problema: revólveres e congêneres são feitos para matar e vêm cumprindo com eficiência o seu intento.
É claro que não se podem atribuir diretamente essas sombrias estatísticas ao cidadão de bem que se arma. O contrabando e o roubo de armamento parecem ser as vias mais comuns pelas quais os criminosos adquirem suas armas.
De toda forma, uma comparação das taxas de homicídios dos países que restringem a venda de armas com aqueles que não o fazem sugere que a medida pode ter impacto significativo, dependendo de sua implementação. Vale a pena tentar.
Com as exceções previstas em lei, ninguém perde nada deixando de andar armado, exceto a enganosa sensação de proteção. Estudos mostram que a pessoa que reage a assalto com sua arma de fogo tem alta probabilidade de sair morta ou ferida.
Pelo menos em teoria, a sociedade ultrapassou aquele estágio em que as diferenças entre as pessoas só podiam ser resolvidas pela força. Mas a contrapartida lógica é que o Estado garanta a segurança dos cidadãos, o que, no caso das armas, significa não só proibir sua venda legal, mas, sobretudo, atacar com eficiência a grande fonte pela qual entram no país, o contrabando.


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