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ESTRATÉGIA LIMITADA
Na esteira da onda de indignação que tomou conta do
país com o trágico desfecho do sequestro de um ônibus no Rio, a Comissão de Constituição e Justiça do
Senado aprovou o projeto de lei que
limita a venda de armas de fogo no
Brasil. O diploma legal ainda tem de
passar pela Comissão de Relações
Exteriores para ir a plenário e depois
seguir para a Câmara.
Aqui, o saudável ceticismo recomenda cautela. Dificilmente será
uma lei que resolverá a terrível questão da violência no Brasil. As armas
de fogo ceifam, anualmente, 38 mil
vidas, sem mencionar os milhares
que carregam por toda a existência as
sequelas de um tiro. Se a proposta de
lei não acerta o objetivo principal, ao
menos atinge as adjacências do problema: revólveres e congêneres são
feitos para matar e vêm cumprindo
com eficiência o seu intento.
É claro que não se podem atribuir
diretamente essas sombrias estatísticas ao cidadão de bem que se arma.
O contrabando e o roubo de armamento parecem ser as vias mais comuns pelas quais os criminosos adquirem suas armas.
De toda forma, uma comparação
das taxas de homicídios dos países
que restringem a venda de armas
com aqueles que não o fazem sugere
que a medida pode ter impacto significativo, dependendo de sua implementação. Vale a pena tentar.
Com as exceções previstas em lei,
ninguém perde nada deixando de
andar armado, exceto a enganosa
sensação de proteção. Estudos mostram que a pessoa que reage a assalto
com sua arma de fogo tem alta probabilidade de sair morta ou ferida.
Pelo menos em teoria, a sociedade
ultrapassou aquele estágio em que as
diferenças entre as pessoas só podiam ser resolvidas pela força. Mas a
contrapartida lógica é que o Estado
garanta a segurança dos cidadãos, o
que, no caso das armas, significa não
só proibir sua venda legal, mas, sobretudo, atacar com eficiência a
grande fonte pela qual entram no
país, o contrabando.
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