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Perda de impulso
Há indícios incômodos
de que, já no segundo trimestre, o investimento tenha reduzido o seu ritmo de expansão
A
MELHOR notícia, quando da divulgação dos
números do PIB brasileiro no primeiro trimestre deste ano, foi a de que
houve uma aceleração forte do
investimento, isto é, dos gastos
com construção civil e aquisição
de máquinas e equipamentos.
Em relação ao trimestre final de
2005, e descontadas as influências sazonais, o investimento ostentou nos três primeiros meses
do ano taxa de expansão de 3,7%
-o que corresponde a animadores 15% em termos anualizados.
Por isso são incômodos os indícios, compilados por reportagem do jornal "Valor" publicada
na quarta-feira, de que já no segundo trimestre o investimento
tenha reduzido de modo sensível
o seu ritmo de expansão. Os analistas ouvidos pela reportagem
foram unânimes em apontar a
perspectiva de uma clara desaceleração. Suas projeções para a
evolução do investimento, comparativamente ao primeiro trimestre, se distribuem entre uma
queda e uma alta limitada a um
terço daquela que foi observada
no início do ano.
Além disso, os especialistas
apontam outro aspecto, este
qualitativo, que amortece o impacto positivo da reativação do
investimento sobre as perspectivas de expansão futura da atividade econômica. Grande parte
da recuperação da construção civil apurada entre os meses de janeiro e março reflete o aquecimento da atividade de edificação
residencial, e não novas obras
em fábricas ou na infra-estrutura, despesas estas que contribuiriam para a ampliação da capacidade produtiva do país.
Já se prolonga o período, iniciado em 1981, em que a economia brasileira se revela incapaz
de sustentar um ritmo de expansão minimamente satisfatório.
Não tem gerado empregos nem
oportunidade de ascensão social
a sua população, tampouco aproveita como deveria os momentos
favoráveis abertos pelo crescimento da economia mundial. Os
breves períodos de aceleração do
crescimento têm sido liderados
ora por surtos de expansão das
exportações, ora por corridas ao
consumo, alimentadas por reduções súbitas da inflação e pela retomada do crédito.
O investimento, ao longo dessas décadas, exibiu movimentos
curtos de recuperação de fôlego,
seguidos por contrações expressivas. De modo geral, a taxa de investimento - isto é, a relação entre os gastos com máquinas, estruturas fabris e construção civil
e o Produto Interno Bruto - se
manteve baixa, tendo atingido
seu ponto mínimo em 2003. Como conseqüência, surgiram gargalos de capacidade de oferta em
vários setores, com destaque para a infra-estrutura de transportes e de energia, que vêm dificultando a aceleração do crescimento da economia.
Não resta dúvida de que uma
recuperação persistente dos investimentos é o requisito mais
importante para que a economia
consiga sustentar durante muitos anos um ritmo mais robusto
de expansão. A dúvida que, incômoda, remanesce é o quanto a
economia brasileira se aproxima, de fato, de uma recuperação
desse tipo.
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