São Paulo, sexta-feira, 16 de junho de 2006

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Perda de impulso

Há indícios incômodos de que, já no segundo trimestre, o investimento tenha reduzido o seu ritmo de expansão

A MELHOR notícia, quando da divulgação dos números do PIB brasileiro no primeiro trimestre deste ano, foi a de que houve uma aceleração forte do investimento, isto é, dos gastos com construção civil e aquisição de máquinas e equipamentos. Em relação ao trimestre final de 2005, e descontadas as influências sazonais, o investimento ostentou nos três primeiros meses do ano taxa de expansão de 3,7% -o que corresponde a animadores 15% em termos anualizados.
Por isso são incômodos os indícios, compilados por reportagem do jornal "Valor" publicada na quarta-feira, de que já no segundo trimestre o investimento tenha reduzido de modo sensível o seu ritmo de expansão. Os analistas ouvidos pela reportagem foram unânimes em apontar a perspectiva de uma clara desaceleração. Suas projeções para a evolução do investimento, comparativamente ao primeiro trimestre, se distribuem entre uma queda e uma alta limitada a um terço daquela que foi observada no início do ano.
Além disso, os especialistas apontam outro aspecto, este qualitativo, que amortece o impacto positivo da reativação do investimento sobre as perspectivas de expansão futura da atividade econômica. Grande parte da recuperação da construção civil apurada entre os meses de janeiro e março reflete o aquecimento da atividade de edificação residencial, e não novas obras em fábricas ou na infra-estrutura, despesas estas que contribuiriam para a ampliação da capacidade produtiva do país.
Já se prolonga o período, iniciado em 1981, em que a economia brasileira se revela incapaz de sustentar um ritmo de expansão minimamente satisfatório. Não tem gerado empregos nem oportunidade de ascensão social a sua população, tampouco aproveita como deveria os momentos favoráveis abertos pelo crescimento da economia mundial. Os breves períodos de aceleração do crescimento têm sido liderados ora por surtos de expansão das exportações, ora por corridas ao consumo, alimentadas por reduções súbitas da inflação e pela retomada do crédito.
O investimento, ao longo dessas décadas, exibiu movimentos curtos de recuperação de fôlego, seguidos por contrações expressivas. De modo geral, a taxa de investimento - isto é, a relação entre os gastos com máquinas, estruturas fabris e construção civil e o Produto Interno Bruto - se manteve baixa, tendo atingido seu ponto mínimo em 2003. Como conseqüência, surgiram gargalos de capacidade de oferta em vários setores, com destaque para a infra-estrutura de transportes e de energia, que vêm dificultando a aceleração do crescimento da economia.
Não resta dúvida de que uma recuperação persistente dos investimentos é o requisito mais importante para que a economia consiga sustentar durante muitos anos um ritmo mais robusto de expansão. A dúvida que, incômoda, remanesce é o quanto a economia brasileira se aproxima, de fato, de uma recuperação desse tipo.


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