São Paulo, sexta-feira, 16 de junho de 2006

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Exames malfeitos

DUAS PESQUISAS recentes feitas por hospitais de referência no tratamento do câncer de mama apontam para o grave problema da má qualidade das mamografias, um dos principais exames para a detecção dessa moléstia, que afeta quase 50 mil brasileiras a cada ano.
No Instituto Nacional de Câncer (Inca), 60% das mamografias trazidas por pacientes que vieram do SUS e de clínicas particulares tiveram de ser refeitas em razão da má qualidade. Já no Hospital São Paulo, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), que recebe pacientes das UBSs (unidades básicas de saúde), a taxa de rejeição foi de 30%.
São várias as causas das falhas nos exames. Elas vão do mau posicionamento das pacientes a problemas de revelação, passando por erros burocráticos grosseiros, como laudos que não correspondem à imagem.
Na melhor das hipóteses, o exame precisa ser refeito. Na pior, deixa-se de fazer o diagnóstico precoce do câncer, o que tende a piorar significativamente o prognóstico da paciente. Vale observar que mesmo a melhor alternativa já implica gastos importantes para o sistema.
Não há razão para acreditar que o índice de falhas com outros exames de imagens ou de análises clínicas seja muito melhor que o das mamografias. Apenas imaginar que de 30% a 60% de todos os exames um pouco mais sofisticados precisem ser refeitos já dá bem a dimensão dos desperdícios na saúde.
Parte dos erros pode ser tributada à chamada "economia estulta", pela qual administradores de serviços de saúde e donos de clínicas procuram poupar alguns tostões deixando de treinar funcionários ou valendo-se de material de qualidade inferior (às vezes por exigência legal, como é o caso da Lei de Licitações). São situações que corroboram o adágio popular: "O barato sai caro".


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