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RUY CASTRO
Relaxar e gozar
RIO DE JANEIRO - Voltando de
São Paulo nesta quinta-feira, tentei
aplicar o conselho da ministra Marta Suplicy, do Turismo, de "relaxar
e gozar" para bem usufruir o tempo
perdido nos aeroportos. Mas, depois de horas retido por um vôo da
ponte aérea, descobri que, em Congonhas, é impossível relaxar.
A distância é muito grande entre
o raio-X da polícia e o portão de embarque, seja este qual for. Caminham-se léguas. Em lá chegando,
você é informado de que, "devido a
um reposicionamento de aeronaves", seu embarque no portão 2 passou para o portão 19. E toca de novo
a arrastar a mala, por sorte com alça. Tal esforço não induz ao relaxamento, mas à fadiga, à tensão e à ira.
Já no portão certo, mas ao saber
que seu vôo está atrasado e sem
previsão, você se instala e, aí, sim,
tenta relaxar lendo seu livro ou revendo o trabalho que o levou a São
Paulo. E, de repente, ouve a voz de
Iris Lettieri.
Iris Lettieri é, há muito, a voz feminina dos aeroportos e uma das
mais excitantes na história do microfone. Deveria ser enlatada e despachada para o ano 3000 numa arca do tempo, para que os pósteros,
ao ouvi-la, façam bom juízo de nós.
Enfim, que voz. Mas também não
leva ao relaxamento. Ao contrário.
Pena que nem todas as vozes em
Congonhas sejam de Iris Lettieri.
De repente, começa uma saraivada
de vozes finas, pelo nariz e com RRs
flácidos, dando copiosas informações bilíngües sobre cada vôo de cada companhia e registrando cada
atraso, troca de portão e dança das
aeronaves. É azucrinante: uma
mensagem atrás da outra, sem piedade para com nossos ouvidos. Impossível ler, relaxar, dormir, sonhar, o que for.
Muitas horas depois, enfim, o
embarque. E apenas por isso -pelo
fim do martírio-, com todo respeito, gozamos! Era isso que a ministra
queria dizer!
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