São Paulo, sexta-feira, 16 de julho de 2004

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CASO DE POLÍCIA

Um grupo de cerca de 50 sem-terra invadiu uma delegacia no município de Aurelino Leal, na Bahia, e resgatou dois integrantes do movimento que haviam sido presos. As prisões, segundo a Polícia Militar, foram motivadas por desacato à autoridade. Ocorreram quando 80 policiais, por determinação da Justiça, atuavam na reintegração de posse de uma fazenda invadida no final de semana. Um dos líderes do MST na Bahia justificou a ação considerando que as prisões foram "injustas".
Não bastassem as seguidas afrontas à lei em sua rotina de invasão de propriedades, representantes do MST agora acreditam que podem determinar que é "justo" invadir uma delegacia e libertar à força pessoas detidas sob a guarda do poder público. Esse tipo de ação não é novidade no país. Já há anos noticiam-se tentativas de resgate de prisioneiros em delegacias e presídios, algumas delas bem-sucedidas, por parte de quadrilhas e organizações criminosas. É exatamente a esses bandos que o grupo de sem-terra da Bahia nivelou-se na audácia e no completo desprezo pela ordem.
Alguns setores da sociedade têm sido tolerantes com os sem-terra possivelmente por entender que há na área rural assimetrias importantes a serem corrigidas. Essa tolerância, no entanto, vem sendo minada pela irracionalidade do MST e pela crescente percepção de que a cúpula do movimento se preocupa menos com a discussão da reforma agrária do que com a instrumentalização de massas de miseráveis para criar situações de confronto com propósitos políticos.
Fatos como esse ocorrido na Bahia servem, no final das contas, para aproximar os sem-terra da delinqüência comum e reforçar o processo de criminalização do movimento social, cujas reivindicações deveriam, a princípio, ser mediadas pela política e não pela polícia.


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