São Paulo, sexta-feira, 16 de julho de 2004

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CLAUDIA ANTUNES

Local e global

RIO DE JANEIRO - Depois de pararem Florianópolis por quase uma semana, manifestantes conseguiram na Justiça, no início do mês, a suspensão do aumento das passagens de ônibus. Foi um avanço em relação aos protestos do ano passado em Salvador, onde a tarifa, reajustada, foi apenas congelada por um ano. Mas o objetivo ainda parece tímido e localizado para um movimento cujos líderes, dois estudantes universitários, integram uma Juventude Revolução Independente.
Como nas manifestações por "um outro mundo possível" que acontecem em toda parte -apesar do impacto negativo que sofreram quando o terrorismo foi transformado em ator principal depois do 11 de Setembro-, os jovens de Florianópolis usam a internet como ferramenta, consideram-se cidadãos globais e rejeitam vínculos com os partidos estabelecidos e a velha esquerda.
O dilema é que, diferentemente do que se esperava nos tempos mais otimistas de Seattle, os atos protagonizados pelos novos ativistas não chegaram a mover uma palha que não fosse retórica nas políticas dos governos e das instituições internacionais. Há um divórcio entre as explosões de revolta e impaciência, mais ou menos organizadas, e os poderes que continuam a reger o planeta.
Os países hegemônicos mantêm, indiferentes, a lógica de impor seus interesses a todo custo; os demais, com exceções que já existiam, permanecem submissos a isso. O Fundo Monetário zela sobretudo, como antes, pelo bem-estar dos credores. A Organização Mundial do Comércio foi paralisada pela articulação dos países pobres e em desenvolvimento, mas americanos e europeus obtêm em acordos bilaterais concessões travadas multilateralmente.
É possível que, para os novos "revolucionários" de Florianópolis e alhures, a resistência a mudanças seja um sinal dos estertores prolongados de poderes que a história já condenou ao passado. O problema é que, como se diz em épocas difíceis como esta, a longo prazo estaremos todos mortos.


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