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CLAUDIA ANTUNES
Local e global
RIO DE JANEIRO - Depois de pararem Florianópolis por quase uma semana, manifestantes conseguiram
na Justiça, no início do mês, a suspensão do aumento das passagens de
ônibus. Foi um avanço em relação
aos protestos do ano passado em Salvador, onde a tarifa, reajustada, foi
apenas congelada por um ano. Mas o
objetivo ainda parece tímido e localizado para um movimento cujos líderes, dois estudantes universitários, integram uma Juventude Revolução
Independente.
Como nas manifestações por "um
outro mundo possível" que acontecem em toda parte -apesar do impacto negativo que sofreram quando
o terrorismo foi transformado em
ator principal depois do 11 de Setembro-, os jovens de Florianópolis
usam a internet como ferramenta,
consideram-se cidadãos globais e rejeitam vínculos com os partidos estabelecidos e a velha esquerda.
O dilema é que, diferentemente do
que se esperava nos tempos mais otimistas de Seattle, os atos protagonizados pelos novos ativistas não chegaram a mover uma palha que não
fosse retórica nas políticas dos governos e das instituições internacionais.
Há um divórcio entre as explosões de
revolta e impaciência, mais ou menos
organizadas, e os poderes que continuam a reger o planeta.
Os países hegemônicos mantêm, indiferentes, a lógica de impor seus interesses a todo custo; os demais, com
exceções que já existiam, permanecem submissos a isso. O Fundo Monetário zela sobretudo, como antes, pelo
bem-estar dos credores. A Organização Mundial do Comércio foi paralisada pela articulação dos países pobres e em desenvolvimento, mas
americanos e europeus obtêm em
acordos bilaterais concessões travadas multilateralmente.
É possível que, para os novos "revolucionários" de Florianópolis e alhures, a resistência a mudanças seja um
sinal dos estertores prolongados de
poderes que a história já condenou
ao passado. O problema é que, como
se diz em épocas difíceis como esta, a
longo prazo estaremos todos mortos.
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